O Globo, n. 32801, 28/05/2023. Opinião, p. 3

Integração sul-americana

Dina Boluarte Zegarra



A iniciativa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de retomar, com os líderes da América do Sul, o diálogo sobre a integração sul-americana, na próxima terça-feira, em Brasília, é necessária e oportuna num momento em que nossa região enfrenta enormes desafios políticos, econômicos e sociais, que devem ser encarados.

O Peru tem um compromisso de longa data com o diálogo e a cooperação regional. Estamos convencidos de que, na atual reconfiguração global, a integração sul-americana constitui uma necessidade para alcançar patamares de desenvolvimento mais elevados que nos permitam melhorar as condições de vida de nossa população, a começar pelos mais pobres e vulneráveis.

É urgente que possamos fortalecer nossa cooperação em segurança sanitária, como ficou evidente na pandemia da Covid-19, bem como em todos os aspectos relacionados ao desenvolvimento social de nossas populações. Da mesma forma, precisamos desenvolver os muitos projetos de interconexão física inacabados. Temos de falar e agir juntos, como sul-americanos, diante da crise alimentar e do agravamento da crise climática. Devemos promover nossas pequenas e médias empresas, dar maior valor agregado às nossas exportações, desenvolver nossas zonas fronteiriças e criar novas cadeias de valor. E temos de combater firmemente a corrupção e o crime organizado, com uma coordenação muito mais estreita entre nossos países, dentre outras prioridades.

Ao retomar esse valioso diálogo para a integração, o Peru acredita que devemos aprender as lições do passado, corrigir os erros dos esforços anteriores e emular as boas práticas de integração existentes dentro e fora de nossa região.

Entendemos que isso significa observar quatro pautas. Primeiro, mais pragmatismo no estabelecimento de objetivos comuns, para que sejam operacionais e mensuráveis. Segundo, menos ideologia nas iniciativas, respeitando os processos institucionais internos de cada país. Terceiro, mais eficiência nos mecanismos de tomada de decisão. E, em quarto lugar, uma abordagem de longo prazo que garanta a sustentabilidade no tempo, reconhecendo o princípio fundamental da alternância e do pluralismo político.

Em sentido mais amplo, temos a obrigação coletiva de promover uma cultura democrática tolerante e de combater os extremismos e a violência política, venham de onde vierem, a fim de fortalecer o Estado de Direito, defender as instituições democráticas e respeitar e proteger os direitos humanos, valores que o Peru compartilha e promove na região e no mundo.

Cada país sul-americano tem seus próprios desafios nacionais. No Peru, as instituições e a sociedade responderam à altura das crises recentes, não apenas para defender a democracia, mas também para melhorar constantemente seu desempenho, diante das necessidades e demandas de nossos cidadãos.