O Estado de S. Paulo, n. 46608, 27/05/2021. Política, p. A4

Análise: Partidos e movimentos de renovação são excludentes?

Cláudio Couto


As decisões do TSE em favor de Felipe Rigoni (PSB) e Tabata Amaral (PDT) no contencioso com suas agremiações, permitindo-lhes delas sair sem perder o mandato, são marco importante na relação entre partidos e os assim chamados movimentos de renovação política. “Assim chamados” porque nem todos se veem como voltados à “renovação”. É o caso da Raps, que opera como rede transpartidária de formação e articulação política construída sobre compromissos comuns, como a sustentabilidade.

O Acredito, de Rigoni e Tabata, também possui tais características, embora de forma mais assertiva em relação a seus membros. Veio daí o conflito dos dois deputados com seus partidos. Porém, é difícil a essas agremiações se dizerem desavisadas ou enganadas: o compromisso firmado com os deputados e suas entidades era claro e feito por escrito.

Ambos se candidataram de forma similar à dos “candidatos avulsos”, que, já em 2016, disputaram as eleições municipais por Rede e PPS (hoje Cidadania). Desde então, partidos abrigaram candidatos com os quais têm alguma afinidade, mas sem lhes exigir disciplina rigorosa. Se PSB e PDT, agora, acharam que seria diferente – ainda mais com uma entidade não partidária na retaguarda – foram ingênuos ou se arrependeram. Tais entidades vieram para ficar, emergindo justamente pela inapetência dos partidos sob alguns aspectos; não os tornam dispensáveis, mas – como organizações da sociedade civil – forçam-nos a novos comportamentos.

Cientista Político e Coordenador do Mestrado Profissional em Gestão Pública da FGV-EAESP e Produtor do Canal/Podcast ‘Fora da Política Não há Salvação’