Correio Braziliense, n. 21479, 06/01/2022. Política, p. 2

Sob pressão, Flávia Arruda ganha apoio de Bolsonaro
Israel Medeiros
Denise Rothenburg



A lvo de críticas e sob pressão para deixar a Secretaria de Governo, a ministra Flávia Arruda (PL) se encontrou, ontem, com o presidente Jair Bolsonaro agora integrante da mesma legenda na  Base Aérea de Brasília. Ali, o chefe do Executivo relatou de viva-voz à auxiliar o que havia dito  na entrevista, mais cedo, no Hospital Vila Nova Star, e reforçou que ela permanecerá no cargo,  com um comentário na linha de “não leve em conta os fofoqueiros de plantão”.

Logo após receber alta do hospital em que estava internado por causa de uma obstrução intestinal, Bolsonaro disse que Flávia Arruda foi indicada ao cargo porque tem competência. Ele  também afirmou que ninguém ligou para ele para pedir a demissão da ministra.

“Por que eu indiquei? Não é por ser mulher, não é por nada. É pela competência dela. Ela foi  relatora do Orçamento”, justificou. “Ninguém ligou pra mim. Ninguém pede a cabeça de ministro  como acontecia no passado”, prosseguiu, ao alfinetar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva  (PT) que, segundo Bolsonaro, distribuía cargos em estatais e ministérios tipo de prática que  o presidente rechaçou quando era candidato e que, agora, tem como modus operandi para continuar  no cargo.

Ele também disse desconhecer erros na gestão da ministra à frente da Secretaria de Governo. “Onde  a ministra Flávia Arruda está errando? Desconheço onde ela está errando. Se, porventura, estiver  errando, como acontece, eu chamo e converso com ela. Ela não será demitida jamais pela imprensa”,  disparou Bolsonaro.

A pressão em torno de Flávia Arruda cresceu nos últimos dias, especialmente após a internação de Bolsonaro, na última segunda-feira. Insatisfeitos com uma  suposta demora no repasse de emendas prometidas pelo Executivo, ainda no ano passado, deputados  do Centrão declararam guerra à ministra.

O líder desse movimento foi o deputado Hugo Motta (PB), comandante do Republicanos na Câmara, que  chegou a defender a demissão de Flávia em um grupo de WhatsApp dos parlamentares. Ele também  foi o relator da PEC dos Precatórios na Casa. Apesar de haver integrantes do Centrão insatisfeitos, o grupo está dividido.

Reservadamente, interlocutores de Flávia dizem que ela não falará sobre esse assunto publicamente “para não esticar a corda” e que o movimento, liderado por Hugo Motta, deve sedes fazer em breve, já que Bolsonaro garantiu a permanência dela. “A declaração do presidente terminou por fortalecer a ministra”, avisam seus aliados.

Além de Bolsonaro, Flávia conta com o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP -AL); e do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. A pressão, no entanto, deve perdurar nos próximos meses, nem tanto para tirá-la do cargo, mas para garantir a indicação do sucessor. Há um  grupo, mais ligado a Bolsonaro, que deseja emplacar Celso Faria Junior, chefe de gabinete do  presidente da República. Já a turma a favor da ministra pretende deixar Carlos Henrique, o número  dois da Secretaria de Governo.

Distrito Federal 

O processo de fritura não provocou muitos reflexos no jogo eleitoral do Distrito Federal nem  afastou aliados da ministra. Na capital federal, ela ainda tem apoio do partido Republicanos de  Hugo Motta.

Aliada do governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), Flávia foi defendida até por adversários  políticos. Caso do ex-governador do DF Rodrigo Rollemberg (PSB). “A ministra Flávia Arruda vem  recebendo pressões. Discordo de suas posições políticas. Mas registro que no Orçamento de 2021 procurei os parlamentares do DF para solicitar recursos para a  Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e UnB (Universidade de Brasília). Flávia foi  atenciosa e atendeu aos dois pleitos. Tem meu reconhecimento”, elogiou, nas redes sociais.

Apesar do respaldo na base de sustentação, não é a primeira vez que Flávia é alvo da fúria de alia dos do governo por atrasos em repasses de emendas. No mês passado, o senador Eduardo Braga  (MDB-AM) ligou para a ministra e foi, segundo fontes do ministério, “grosseiro” com ela, ao cobrar recursos prometidos pelo governo, mesmo já tendo recebido cerca de 70% do que havia  sido acordado pelo Executivo. A ministra classificou o ocorrido, na época, como um episódio de  machismo e disse que não se amedrontaria com gritos.

Ao Correio, Braga negou que tenha ofendido Flávia e disse que não tinha recebido parte dos recursos, como afirmaram fontes ligadas à ministra. Hugo Motta também foi procurado pela reportagem, mas não retornou até o fechamento desta edição.