Correio Braziliense, n. 21478, 05/01/2022. Brasil, p. 4

Consulta diz não à receita para vacina
Taísa Medeiros
Gabriela Bernardes*


A maioria  das  pessoas que respondeu à consulta pública, aberta pelo Ministério da Saúde, sobre a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos contra a covid-19 foi contra a necessidade de  receita médica para a imunização do público infantil. De acordo com o governo federal, a sondagem recebeu, até o encerramento na noite do último domingo, 99.309 respostas.

O número foi informado pela secretária de Enfrentamento à Covid-19 do Ministério, Rosana Leite  de Melo, durante a audiência pública que debateu o assunto, ontem, na sede da Organização  Pan-Americana da Saúde (Opas), em Brasília. Em 16 de dezembro, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a aplicação da vacina Pfizer contra o novo coronavírus para crianças de 5 a 11 anos. Desde então, o  governo federal tem colocado vários entraves à imunização, e a consulta pública contestada  por especialistas e pela Anvisa foi apenas um desses.

O governo disse, ainda, que a maioria das pessoas que respondeu à sondagem foi contrária à obrigatoriedade da vacinação na  faixa 5-11 anos. O próximo passo é a elaboração de um documento com as diretrizes a serem  adotadas para a vacinação das crianças, com base no resultado da consulta e da discussão realizada ontem.

A audiência no prédio da Opas contou com a participação de especialistas na área de saúde, entidades e autoridades. Durante a reunião, os convidados apresentaram dados e teses sobre a  aplicação do imunizante no grupo infantil.

Sucesso 

A representante da Opas, Socorro Gross, ressaltou que a vacinação “é um dos elementos mais  importantes para salvar vidas” e atribuiu o sucesso da vacinação contra a covid-19 no Brasil ao Sistema Único de Saúde (SUS), “porque é universal, gratuito e integral”.

Marjori Dulcine, representante do laboratório Pfizer cuja vacina foi recomendada pela Anvisa  para aplicação pediátrica —, destacou o alto risco da covid-19, ao qual as crianças permanecerão  expostas se não forem vacinadas. “Elas são uma fonte importante para a transmissão da doença, podendo transmitir a covid-19 por períodos mais longos, e se tornarem as principais disse minadoras da pandemia em um futuro próximo”, alertou.

“A doença impacta muito mais os adultos, entretanto isso nos distraiu da relevância que essa  doença tem para a população pediátrica”, disse o representante da Sociedade Brasileira de  Pediatria (SBP), Marco Aurélio Sáfadi. “Cada vez que um pai ou uma mãe internava uma criança com covid-19, o risco de morte era de 7%. Ou seja, a cada 15 crianças hospitalizadas,  uma acabava sendo vítima fatal”, lembrou.

Os especialistas também teceram críticas à consulta do ministério. “O que nós ne cessitamos saber é o que a população precisa, e não o que a população entende, já que não tem os subsídios científicos para responder às perguntas”, argumentou a representante da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Isabela Ballalai.

Para o representante do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Nesio de Medeiros,  toda a posição que estimule a hesitação vacinal deve ser combatida, “pois reduz a capacidade do  sistema de saúde de promover saúde e prevenir doenças. A vacinação tem importância para as crianças porque elas não merecem o vírus. Elas merecem uma proteção segura”, afirmou.

Já José Davi Urbaez, que falou em nome da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), indicou que  “temos que sair dessa nuvem de hesitação vacinal e continuar na construção coerente de uma política  pública de vacinação que inclua todas essas crianças”.