O Estado de S. Paulo, n. 46599, 18/05/2021. Internacional, p. A10

Biden promete compartilhar 20 milhões de doses de vacinas com outros países

Beatriz Bulla


O presidente americano, Joe Biden, anunciou ontem que os EUA enviarão a outros países 20 milhões de doses de vacinas contra covid-19 nas próximas seis semanas, além dos 60 milhões já prometidos. “Isso significa que, nas próximas seis semanas, os EUA enviarão 80 milhões de doses para o exterior. Serão mais vacinas do que qualquer país compartilhou até hoje. Mais do que Rússia e China, que doaram 15 milhões de doses”, disse Biden.

A Casa Branca ainda não informou quais países receberão os imunizantes, mas recentemente Biden sugeriu que o Brasil poderia estar entre os beneficiados. O presidente disse que os EUA trabalharão com o consórcio Covax Facility e com “outros parceiros” para assegurar que as vacinas sejam distribuídas de maneira “equitativa, que siga a ciência e os dados de saúde pública”.

No anúncio, Biden se comprometeu com o envio de 20 milhões de doses que já estão aprovadas para uso nos EUA, das farmacêuticas Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson – esta última requer dose única. Há cerca de um mês, a Casa Branca já havia prometido que 60 milhões de doses da Astrazeneca, que os EUA já possuem, seriam despachadas a outros países assim que o produto fosse aprovado para uso pelas autoridades locais.

No entanto, até agora, a agência americana que regulamenta os medicamentos, a FDA, não deu aval ao imunizante e a pressão sobre os EUA para compartilhar o excedente de doses com países pobres e em desenvolvimento continuou a crescer. “A propagação rápida da doença e das mortes em outros países podem desestabilizá-los e representar um risco para nós também. Novas variantes podem surgir no exterior, que podem nos colocar em maior risco. Precisamos ajudar a combater a doença em todo o mundo para nos mantermos seguros”, disse Biden.

Os EUA não informaram se todas as doses serão compartilhadas através do Covax ou se parte delas será negociada bilateralmente com outras nações – como o governo americano sugeriu que faria nos pronunciamentos no último mês. A Casa Branca também não informou se as doses serão doadas ou seguirão outro tipo de negociação. O governo brasileiro, por exemplo, chegou a sugerir aos EUA a negociação de uma permuta, para receber doses agora e compartilhar com os americanos no futuro.

O presidente americano afirmou que os EUA serão responsáveis por um “arsenal de vacinas” para acabar com a pandemia em todos os lugares do mundo e rebateu a ideia de que os EUA estão atrás de Rússia e China na chamada “diplomacia da vacina”. “Queremos mostrar ao mundo nossos valores. Com esta demonstração de nossa inovação, engenhosidade e a decência fundamental do povo americano”, disse. “Não usaremos nossas vacinas para garantir favores de outros países.”

Os EUA já imunizaram mais de 157 milhões de pessoas com pelo menos uma dose de uma das vacinas disponíveis – o equivalente a 60% dos adultos e 47% da população total. Até adolescentes de 12 anos ou mais estão sendo vacinados no país. Turistas também têm recebido aplicações.

Os EUA compraram doses o suficiente para vacinar três vezes o número de residentes e, atualmente, a oferta de imunizantes tem sido maior do que a demanda. Ontem, Biden comemorou que, pela primeira vez desde o começo da pandemia, os casos de covid19 caíram em todos os 50 Estados americanos.

A comunidade internacional tem pedido à Casa Branca que envie as doses compradas pelos EUA e atualmente paradas a outros lugares. Em março, Biden aceitou o empréstimo de 4 milhões de doses da vacina da Astrazeneca aos vizinhos México e Canadá e anunciou mais financiamento para o Covax Facility.

Também em razão da pressão internacional, os EUA decidiram apoiar a suspensão de direitos de propriedade intelectual sobre as vacinas contra a covid-19, uma ideia proposta por Índia e África do Sul na Organização Mundial do Comércio (OMC) que pode permitir a quebra de patente dos imunizantes. O objetivo é facilitar a transferência de tecnologia e possibilitar a produção das vacinas em países que estão atrás na corrida pela imunização.

Em seu discurso de ontem, Biden afirmou ainda que trabalhará com “democracias mundiais” para coordenar uma iniciativa multilateral para acabar com a pandemia que irá além da doação de doses. Segundo ele, o trabalho exigirá parceria com as farmacêuticas.

O presidente planeja anunciar seu plano no encontro do G-7, que ocorrerá em junho no Reino Unido. “Este é um mundo que muda rapidamente. E é um erro apostar contra a democracia. Assim como as democracias lideraram o mundo na escuridão da 2.ª Guerra, a democracia levará o mundo para fora desta pandemia”, disse.

Ameaça

“A propagação da doença e das mortes em outros países pode desestabilizá-los e representar um risco para nós também”

Joe Biden

Presidente Americano

Pontos-Chave

EUA vão doar mais 20 milhões de doses

• Vacinação

Os EUA já vacinaram 60% dos adultos com pelo menos uma dose de um dos imunizantes disponíveis e 47% da população de maneira completa.

• Risco

A variante B.1.617, detectada na Índia, em outubro, foi identificada em 44 países, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

• Diplomacia da vacina

A vacinação é lenta na China, porque a população acha que a epidemia está controlada e por causa "diplomacia da vacina", que desvia doses para o exterior.