Correio Braziliense, n. 21475, 02/01/2022. Brasil, p. 5

De volta ao Conselho da ONU após 10 anos
Thaisa Medeiros
Fabio Grecchi


Depois de 10 anos, o Brasil voltou a ocupar um dos assentos rotativos do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A posse será na próxima terça-feira e a participação no principal organismo  de deliberação da ONU será por dois anos.

Esta é a 11ª vez que o Brasil integra a instância máxima da ONU a última foi em 2010 e 2011. O  embaixador Ronaldo Costa Filho, chefe da missão brasileira nas Nações Unidas, afirmou que,  neste biênio, o foco será o debate de questões relacionadas à América Latina especialmente a  crise humanitária no Haiti e o recrudescimento da narco guerrilha na Colômbia e os conflitos na  África.

Há décadas o Brasil reivindica assento permanente no colegiado, ao lado de Estados Unidos,  Rússia, China, França e Grã-Bretanha. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez intensa  campanha, no seu segundo governo, para que o número de integrantes fixos do conselho fosse  aumentado. Por isso, o país integra o chamado G4 com Alemanha, Índia e Japão, que defendem a  ampliação do conselho.

Os membros permanentes são os únicos que têm poder de veto basta um discordar para derrubar uma  decisão acordada pelos demais. Os outros integrantes temporários que assumirão com o Brasil  são Albânia, Emirados Árabes, Gabão e Gana. Compõem ainda o conselho Índia, República da  Irlanda,  México, Noruega e Quênia que ficam até o fim de 2022.

Expectativa 

Nos  meios  diplomáticos, existe uma grande curiosidade sobre a atuação brasileira. Isso porque, durante a gestão de Ernesto Araújo, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) rompeu  várias tradições diplomáticas do Brasil. A que mais trouxe prejuízos foi a beligerância com a China, membro permanente do colegiado.

O chanceler anterior chegou a chamar o novo coronavírus de “comunavírus”, em alusão ao fato de o  micro-organismo ter sido identificado na cidade chinesa de Wuhan, além de ter participado da campanha de hostilidades contra o embaixador de Pequim no Brasil, Yang Wanming  pediu até que se retratasse quando o diplomata respondeu com veemência a um ataque do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Diante da deterioração das relações com os chineses, Araújo chegou a dizer que não era ruim que  o Brasil se tornasse um pária internacional. Além disso, durante o governo de Donald Trump, o país  se alinhou, na Organização Mundial do Comércio (OMC), ao então presidente norte-americano  contra a proposta da Índia e da África do Sul de quebra de patentes das vacinas para a covid-19,  a fim de que os países pobres pudessem ter acesso aos fármacos.

Mas a convivência com a China no conselho não é a única fonte de constrangimento para o Brasil.  Terá também de se relacionar com o representante diplomático da França cuja mulher do  presidente, Emmanuel Macron, foi motivo de deboche do presidente Jair Bolsonaro e do ministro da  Economia, Paulo Guedes, que disseram que ela era “feia” e dos Estados Unidos cuja vitória de Joe Biden sobre Trump demorou a ser reconhecida pelo Palácio do Planalto.