Correio Braziliense, n. 21446, 04/12/2021. Cidades, p. 13

A vida de Giovanna tirada por um covarde

Darcianne Diogo
Júlia Eleutério


Frio, calculista e dissimulado, o assassino de Giovanna Laura Santos Peters, 20 anos, não esboçou qualquer reação ou arrependimento durante o depoimento prestado na delegacia, em que confessou, com detalhes, o crime brutal contra a jovem. Após matar a namorada com uma facada no pescoço, o motoboy Leandro Araújo Marques, 22, abandonou o corpo em uma estrada de terra, em Taguatinga. Depois de cometer o feminicídio, para despistar a polícia, o suspeito enviou uma mensagem para o WhatsApp de Giovanna, em que disse: “Amor, cadê você”. Entre janeiro e outubro deste ano, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF) registrou 23 feminicídios.

Giovanna estava em um dos melhores momentos da vida. Recentemente, ela havia iniciado um estágio como monitora de uma creche no Areal e estava feliz com o novo emprego, segundo relataram familiares. Há cerca de três anos, a jovem iniciou o namoro com Leandro, mas não demorou para surgirem as primeiras agressões.

Os dois romperam o relacionamento, mas haviam reatado o namoro há pouco tempo. Em entrevista coletiva, o delegado-chefe da 23ª Delegacia de Polícia (P Sul), Gustavo Farias Gomes, afirmou que o autor era possessivo de ciúmes e tinha histórico de agressões. A mãe da vítima contou que o casal brigava frequentemente e, em uma ocasião, Leandro bateu o celular contra a cabeça da vítima.

Farsa do assassino

Fim da tarde de domingo. Giovanna saiu de casa, em Samambaia, para ir até a residência do namorado, na QNN 24 de Ceilândia. Leandro foi buscá-la. Durante a noite, o casal começou a brigar. O motivo seria ciúmes. Segundo as investigações, o homem achou que havia sido traído pela vítima.

As marcas no corpo da jovem e no do agressor constataram que houve luta corporal no dia do crime. Após a briga, Leandro pegou um facão, imobilizou a Giovanna e cortou a garganta dela, que morreu na hora. O corpo da vítima permaneceu na casa do agressor até a manhã de segunda-feira.

Por volta das 7h, Leandro foi até a residência de um amigo para pedir o carro dele, um Fiesta azul, emprestado, com a desculpa de que o veículo seria usado para fazer uma ligação de bateria em outro automóvel. O motoboy se deslocou até uma oficina, na QR 503 de Samambaia, onde pegou o carro, voltou para a casa, colocou o corpo de Giovana e dirigiu por cerca de 3km até uma estrada de terra, próximo à antiga Academia da Polícia Civil. Em um local de mato, ele abandonou a vítima em um amontoado de pedras.

Friamente, duas horas depois, Leandro enviou uma mensagem do celular de Giovanna para a mãe dela, se passando pela namorada, em que disse: “Estou na casa do Leandro. Vou embora ainda cedo.” Depois disso, o telefone ficou fora de área e não recebeu mais mensagens ou ligações. Para atrapalhar as investigações e despistar a polícia, o agressor mandou uma mensagem para o celular da vítima: “Amor, cadê você? Você sumiu. Estou atrás de você”.

A mãe de Giovanna telefonou para o genro e pediu para que ele comparecesse à delegacia a fim de auxiliá-la a prestar informações, uma vez que ele teria sido a última pessoa a estar com a vítima. Leandro negou e disse que estava trabalhando em uma chácara e só retornaria à Ceilândia no fim da noite.

A mulher solicitou a localização de Leandro para que ela mesma e uma policial fossem até a chácara. Lá, o suspeito avisou que a jovem havia saído da casa dele e solicitado um transporte por aplicativo para ir embora. Com as informações, os policiais deram início a uma série de investigações e constataram que Leandro mentiu, pois não havia chamado de motorista para o endereço dele.

Os investigadores foram até a casa do suspeito e, no imóvel, encontraram uma mancha de sangue na cadeira da sala, uma camiseta suja em um cesto de roupas no banheiro e um facão, supostamente, utilizado no feminicídio na lavanderia. Ao ser confrontado, o motoboy negou qualquer envolvimento no desaparecimento da namorada. "De acordo com as informações que foram nos passando, nós encontramos várias contradições. Até que, no final do dia, já com o advogado e a família na delegacia, ele disse onde teria ocultado o corpo", ressaltou o delegado Gustavo.

A vítima estava em estado de decomposição e coberta por pedras e madeiras, em uma região deserta e de mata, geralmente frequentada por usuários de drogas. O Corpo de Bombeiros Militar do DF foi acionado para fazer o resgate. O assassino confesso foi autuado em flagrante por homicídio qualificado por motivo fútil, feminicídio e ocultação de cadáver. A pena pode chegar a 30 anos de prisão.

Onde pedir ajuda?

Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência — Secretaria

de Políticas para as

Mulheres da Presidência

da República

Telefone: 180 (disque-denúncia)

Centro de Atendimento à Mulher (Ceam)

De segunda a sexta-feira,

das 8h às 18h. Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)

Entrequadra 204/205 Sul. Telefone (61) 3207-6172

Disque 100 — Ministério dos Direitos Humanos

Telefone: 100

Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar

Telefones: (61) 3910-1349 /

(61) 3910-1350