Correio Braziliense, n. 21179, 20/05/2021. Política, p. 3

Desmentido sobre crise em Manaus


Os momentos mais tensos do depoimento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello na CPI da Covid ocorreram quando o general disse ter sido informado sobre a falta de oxigênio em Manaus apenas em 10 de janeiro.

Logo depois, chegou ao colegiado um documento no qual o ex-secretário executivo do Ministério da Saúde Élcio Franco admitia que Pazuello soube da crise no abastecimento de oxigênio no Amazonas na noite de 7 de janeiro, em uma conversa por telefone com o secretário estadual de Saúde, Marcellus Campêlo. A nota assinada por Franco foi uma resposta ao requerimento de informações enviado pelo deputado José Ricardo (PT-AM).

O clima na CPI ainda esquentou entre o ex-ministro e o senador Eduardo Braga (MDB-AM), depois de Pazuello afirmar que foram apenas três dias de desabastecimento de oxigênio no Amazonas. "Em quatro ou cinco dias já estávamos com nível de estoque restabelecidos. Tivemos três dias onde aconteceram as maiores dificuldades", sustentou.

Braga, então, rebateu o ex-ministro dizendo que a crise de desabastecimento durou 20 dias, e não três. "Não faltou oxigênio no Amazonas em apenas três dias. Faltou oxigênio por mais de 20 dias. É só ver o número de mortos, é só ver o desespero das pessoas", disparou. "Não é possível isso. O senhor assistiu com seus olhos aos nossos brasileiros amazonenses morrerem por falta de oxigênio."

Até mesmo o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), bateu boca com o senador Luís Carlos Heinze (Progressistas-RS) e o chamou de "mentiroso" por ele dizer que o governo Bolsonaro havia enviado dinheiro ao Amazonas para combate ao coronavírus. "Não me chame de mentiroso", gritou Heinze. A sessão foi suspensa e, depois, Aziz pediu desculpas.

A condução de Pazuello do caso é alvo de um inquérito em andamento. O ex-ministro disse à CPI que ficou com medo de estar "fazendo demais", em referência ao fato de ter transferido seu gabinete para Manaus na ocasião. "Alguém pega seis secretários de saúde e embarca num avião para Manaus. Fiquei com medo de estar prevaricando, fazendo demais, não sabia nem o que eu ia encontrar em Manaus." O ex-ministro alegou, ainda, que seus "olhos estavam sobre Manaus" desde 28 de dezembro.