Correio Braziliense, n. 21177, 18/05/2021. Brasil, p. 5

Ministério dá passo contra a cloroquina
Gabriela Bernardes*


Um grupo de especialistas ligado ao Ministério da Saúde divulgou um parecer inicial, publicado ontem, no Diário Oficial da União (DOU), com orientações contra o uso das substâncias cloroquina, azitromicina e ivermectina, além de outros medicamentos sem eficácia no tratamento da covid-19 em pacientes hospitalizados por causa da doença. A avaliação faz parte do projeto de elaboração de um protocolo único de atendimento a doentes nos hospitais, chamado de "Diretrizes Brasileiras para Tratamento Hospitalar do Paciente com Covid-19", que trata, ainda, da intubação, do fornecimento de oxigênio e de outros cuidados para pacientes infectados.

O texto está sendo analisado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), que, inicialmente, deu parecer contrário ao uso dos medicamentos que vêm sendo prescritos pelo presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores contra a covid-19. Mas uma nova reunião será realizada depois de uma consulta pública e, se aprovado desaconselhando o uso da cloroquina, da ivermectiva e da azitromicina, se tornará a posição oficial do governo sobre o tema.

"Alguns medicamentos foram testados e não mostraram benefícios clínicos na população de pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados, sendo eles: hidroxicloroquina ou cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, colchicina e plasma convalescente. A ivermectina e a associação de casirivimabe + imdevimab não possuem evidência que justifiquem seu uso em pacientes hospitalizados, não devendo ser utilizados nessa população", diz o documento elaborado pelo grupo de especialistas.

Tendência

O parecer ainda alerta que "durante epidemias, quando não há tratamentos clínicos com efetividade consolidada, há tendência ao uso de medicamentos baseado em resultados de estudos pré-clínicos, ou tendo por base estudos observacionais com limitações importantes". O documento, porém, concentra-se apenas no uso hospitalar desses medicamentos, o que representa que o chamado "tratamento precoce" não estaria inserido — porém, a posição do Ministério da Saúde para a prescrição desses medicamentos indicaria que sua utilização também é desestimulada como Bolsonaro e seus seguidores sugerem.

A insistência na prescrição desses medicamentos levou à saída dos ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, conforme salientaram em depoimento na CPI da Covid, no Senado. Na sequência de oitivas, o atual ministro, Marcelo Queiroga, evitou se manifestar contrariamente às substâncias, afirmando que seria dele a aprovação do parecer da Conitec.

Já o também ex-ministro da pasta Eduardo Pazuello mudou o protocolo da Saúde para permitir a prescrição de cloroquina para pacientes com sintomas leves da covid-19 — inclusive, permitiu o lançamento um aplicativo, o TrateCOV, que indicava o medicamento até mesmo para bebês. A plataforma foi retirada do ar uma série de críticas.

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi