O Estado de S. Paulo, n. 46582, 01/05/2021. Economia & Negócios, p. B4

Análise: Leilão da Cedae é um marco na história da infraestrutura

Gesner Oliveira


Quatro consórcios participaram do leilão da Cedae e deram lances para três dos quatro blocos, refletindo o apetite do setor privado para investir em saneamento. O ágio médio foi de 140,14% e os três blocos arrematados geraram uma arrecadação como outorga de R$ 22,7 bilhões.

O leilão da Cedae entra para a história como um dos maiores em valores. O mencionado valor de outorga de R$ 22,7 bilhões supera os lances no passado para a CSN (R$ 9,7 bilhões), da Cia Vale do Rio Doce (R$ 13,3 bilhões) e da Telesp (R$ 22,4 bilhões), todos os montantes atualizados monetariamente para preços de 2021.

O projeto de concessão inclui investimentos de despoluição da baia de Guanabara (R$2,6 bilhões), na bacia do Guandu (R$2,9 em bilhões) e do complexo lagunar da Barra da Tijuca (R$ 250 milhões). Investimentos fundamentais, mas que a dramática situação fiscal do estado não permitiria que fossem realizados pelo poder público. Outra meta é a universalização dos serviços até 2033, em linha com o novo marco do saneamento.

Leilões anteriores no saneamento já haviam sido bem-sucedidos, como na região metropolitana de Maceió, em Mato Grosso do Sul, no município de Cariacica no Espírito Santo e na região metropolitana de Porto Alegre. Isso apesar de todas as incertezas das conjunturas nacional e mundial.

A razão para o apetite de investimento no saneamento está associada a uma confluência de pelo menos três fatores. O primeiro é a consciência da sociedade que não é mais aceitável admitir que metade da população brasileira não tenha coleta de esgoto, eentre tantas outras lacunas desta infraestrutura social no Brasil. O segundo é a melhora do marco regulatório do setor aprovado depois de mais de década de discussão no ano passado. O terceiro é o maior interesse nos investimentos de longo prazo com a redução dos patamares de taxa de juros no mundo e no Brasil.

O sucesso do leilão da Cedae sinaliza a fronteira de expansão para a economia depois da profunda crise da Covid 19: infraestrutura e sustentabilidade. O saneamento contém os dois vetores da retomada.

Ex-Presidente da Sabesp e Coordenador do Centro de Estudos de Infraestrutura e Soluções Ambientais da FGV