Correio Braziliense, n. 21174, 15/05/2021. Cidades, p. 13

90% mais mortes entre adultos jovens

Samara Schwingel
Ana Maria da Silva



No mês mais letal da pandemia da covid-19 no Distrito Federal, abril de 2021, a mortalidade de pessoas de 30 a 39 anos, devido à doença, aumentou 90% em relação à média de março de 2020 a março de 2021. No período, 5.591 pessoas faleceram devido ao novo coronavirus, 187 (3,30%) faziam parte desta faixa etária. No mês passado, de 1.387 mortes, 87 (6,26%) eram deste grupo. Os dados são de um levantamento realizado pelo Registro Civil com base no Portal de Transparência do órgão e consideram apenas as mortes causadas pela covid-19.

Entre os grupos que começaram a se imunizar contra a doença no DF, recebendo as duas doses das vacinas, a maioria teve queda no número de mortes, em relação à média do ano passado. Entre 70 e 79 anos, a baixa foi de 28%; 65%, entre 80 e 89 anos; e 63% na população de 90 a 99 anos. Além disso, outra parte do levantamento mostra que, de março e abril, as faixas etárias que ainda não faziam parte do público-alvo da campanha de vacinação contra o coronavírus no DF tiveram uma alta significativa no número de óbitos. Por exemplo, em março, 131 pessoas de 40 a 49 anos morreram na capital federal. Em abril, o índice subiu para 206.

Segundo Gustavo Fiscarelli, presidente da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil), representante dos oficiais de Registro Civil e fomentadora do portal de transparência, os dados servem de apoio para pesquisadores e governantes guiarem durante a crise sanitária. "Preferimos fazer essa extração em abril para abranger um ano de pandemia, mas fazemos relatórios mensais, desde o início da crise sanitária e, a cada quinze dias, temos algum tipo de estudo que possa guiar o combate à pandemia. A partir dos dados, podemos ter uma noção mais geral do cenário", explica.

Ele ressalta que não é especialista em saúde, mas, de acordo com os números, a imunização impactou no resultado. "(O levantamento) mostra o aumento de mortes nas faixas que ainda não são vacinadas e decréscimo nas faixas já vacinadas. Os números começam a mostrar que a vacinação é uma solução para esta pandemia", diz.

Infectologista do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e da clínica Quality Life, Joana Darc explica que a vacinação é um dos fatores que podem ter influenciado nos dados. "Há a questão da exposição espontânea e obrigatória. Em festas, bares e restaurantes, onde a possibilidade de transmissão é mais alta, jovens estão se expondo mais", destaca. Ela explica que o público também corre risco nos ambientes de trabalho. "São pessoas que não pararam e pegam um transporte público lotado, frequentam ambientes que não são devidamente higienizados", completa. A médica diz que a circulação da variante P1 pode ter contribuído para o aumento de mortes de pessoas mais jovens.

Infecções

Em outubro do ano passado, a estudante universitária Júlia Nacfur Peçanha, 22 anos, teve covid-19. Bailarina, ela conta que alguns colegas de dança testaram positivo. Foi quando desconfiou e resolveu fazer um teste para se assegurar. "Eu tinha perdido minha avó poucos dias antes e tive contato com várias pessoas no velório. Então, nossa reação foi avisar a todos que tiveram contato comigo para ficarem atentos e fazerem o teste também", recorda-se. Apesar de não conseguir identificar a forma de contaminação, Júlia acredita que pode ter acontecido tanto nas aulas quanto no supermercado.

Para aqueles que atuam na linha de frente, ser infectado no local de trabalho é um dos maiores riscos. Foi como a estudante universitária Natália Lopes de Oliveira, 23, acredita que a mãe, uma fisioterapeuta, contraiu o vírus. "Ela estava atendendo aos pacientes normalmente, até que uma das famílias foi infectada. Achamos que foi assim que pegamos a doença", pontua. De acordo com Natália, a família foi contaminada em agosto do ano passado pelo novo coronavírus.

Moradora do Cruzeiro Novo, a estudante ressalta que é comum ver aglomerações próximo de casa. "Aqui perto, está sempre cheio, mas não podemos deixar de ir (ao mercado). Fora isso, tem restaurantes, igrejas e encontros de família principalmente. Agora, sei que acontecem muitas festas clandestinas, e isso, com certeza, aumenta e muito os níveis de contaminação", pontua. Para Natália, acima do uso de máscara, distanciamento social e lockdown, é preciso uma boa gestão. "O governo tem que dar suporte e orientar bem a população", argumenta.