Correio Braziliense, n. 21439, 27/11/2021. Brasil, p. 6

Brasil fecha fronteira para conter cepa do coronavírus

Maria Eduarda Cardim
Ingrid Soares


O governo brasileiro decidiu tomar providências em relação à variante da covid que assombrou o mundo nessa sexta-feira. Horas depois dos alertas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e do Ministério da Saúde, o Palácio do Planalto anunciou medidas restritivas.  

“O Brasil fechará as fronteiras aéreas para seis países da África em virtude da nova variante do coronavírus. Vamos resguardar os brasileiros nessa nova fase da pandemia naquele país. Portaria será publicada amanhã e deverá vigorar a partir de segunda-feira”, escreveu o ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, em uma rede social.

De acordo com Nogueira, “a decisão foi tomada em conjunto” e será assinada pelas seguintes pastas: Casa Civil, Ministério da Infraestrutura, Ministério da Saúde e Ministério da Justiça. “A restrição atingirá os passageiros oriundos de: África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue”, esclareceu Nogueira.

Mais cedo, o Ministério da Saúde emitiu uma comunicação de risco sobre a variante ômicron, identificada primeiramente na última terça-feira (23) na África do Sul. Ela é classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “variante de preocupação”, pois contém mais de 30 mutações na proteína Spike, a principal do Sars-CoV-2.

Segundo o documento, o alerta de risco “tem como objetivo apoiar na divulgação rápida e eficaz de conhecimentos às populações, parceiros e partes intervenientes possibilitando o acesso às informações fidedignas que possam apoiar nos diálogos para tomada de medidas de proteção e controle em situações de emergência em saúde pública”.

A decisão de fechar as fronteiras vai ao encontro das medidas preventivas recomendadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em relação países africanos atingidos pela Ômicron. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a variante do novo coronavírus parece ter maior transmissibilidade e pode estar ligada ao aumento contínuo de infecções da covid-19 nos referidos países, cuja cobertura vacinal ainda é baixa. Na nota, a Anvisa ainda orienta que brasileiros evitem viagens não essenciais, principalmente para esta região ao sul da África.

“Que loucura é essa?”

O fechamento das fronteiras, anunciado ontem pelo Palácio do Planalto, contradiz a opinião do presidente Jair Bolsonaro sobre a nova situação referente à covid-19. Apesar de reconhecer a possibilidade de uma quarta onda da pandemia no Brasil, o chefe do Executivo descartou o fechamento de aeroportos durante conversa com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada ontem.

“Você não vai vedar, rapaz. Não vai… Mas pera aí, que loucura é essa? Quer dizer, fechou aeroporto e o vírus não entra? Ah, pelo amor… Já tá aqui dentro, pô. Não existe isso”, apontou. “Agora, boa notícia aí: está vindo uma outra onda aí de covid, lamentável”, completou. Em seguida, um apoiador reforçou ser preciso impedir voos da Europa, justificando que o continente tem sido foco de novos casos da doença. Bolsonaro rebateu: “Você está vendo muita Globo”.

O chefe do Executivo destacou que se os casos voltarem a subir no país, manterá a posição contrária à adoção de medidas restritivas e lockdown. “Tudo pode acontecer, uma nova variante, um novo vírus, como foi isso aí. O mundo, o Brasil não aguenta um novo lockdown. Vai condenar todo mundo à miséria, e a miséria leva à morte também. Não adianta se apavorar”, completou.

Depois, Bolsonaro disse que avalia quarentena para viajantes de avião provenientes da Argentina. No entanto, não especificou se mencionou a Argentina como exemplo ou se realmente adotará a medida para o país vizinho. “Conversei com o Almirante Barros, que é da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), conversei com o Ciro (Nogueira), que é chefe da Casa Civil. Discutimos Argentina. Quem veio da Argentina de carro para cá, sem problema. Quem vier de avião tem que ficar 4 dias em quarentena. Eu vou tomar medidas racionais”, comentou Bolsonaro.