O Estado de S. Paulo, n. 46581, 30/04/2021. Política, p. A6

Chefe do Clube Militar defende golpe para 'restabelecer ordem'

 Marcelo Godoy
Lauriberto Pompeu


Após agenda oficial do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, registrar dois encontros com militares da reserva no Rio, na sexta-feira e no domingo, o presidente do Clube Militar, general Eduardo José Barbosa, publicou anteontem uma nota com críticas e ameaças ao Legislativo e Judiciário, à oposição e à imprensa. Ele diz que o Executivo (Jair Bolsonaro) é o único Poder a cumprir a Constituição e critica a CPI da Covid no Senado.

“O Poder Executivo, único dos três poderes que está sendo obrigado a seguir a Constituição à risca, que utilize o art. 142 da Constituição Federal para restabelecer a lei e a ordem. Que as algemas voltem a ser utilizadas, mas não nos trabalhadores que querem ganhar o sustento dos seus lares, e sim nos verdadeiros criminosos que estão a serviço do ‘poder das trevas’.”

Segundo o general, as “trevas” são representadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “E como ‘as trevas’ têm poder devastador, no dia 27 de abril de 2021, instalou-se uma CPI no Senado, encabeçada por um senador cuja família foi presa recentemente por acusações de esquema de corrupção no Amazonas.”

O militar diz que já conhece o resultado da CPI. “Culpar o presidente por aquilo que não o deixaram fazer.” Depois comparou os parlamentares aos traficantes Fernandinho Beira-Mar e Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. “Temos os ‘Marcolas e Fernandinhos BeiraMar’ investigando a atuação da polícia.” Sobre os ministros do STF, o general afirmou: “Se não conseguem inocentar o bandido de estimação, basta encontrar subterfúgios para anular processos”. Em um tom messiânico, continuou: “Bastou a eleição de um presidente que acredita em Deus para que todo o inferno se levantasse contra ele”.

Há 20 dias, o Clube publicou artigo em que chamava de traidor os generais que se opunham a Bolsonaro. O Estadão procurou a Defesa ontem para saber com quem o ministro se encontrou no Rio e o que foi tratado nos encontros, mas não obteve resposta. Ontem, Braga Netto foi ouvido na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional

do Senado. “Não existe politização nas Forças Armadas. Isso é uma ideia equivocada. Houve uma troca de ministros e, por uma questão funcional, houve troca dos comandantes.”

Bolsonaro entrou em atrito com a antiga cúpula militar e demitiu o então ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva. O deputado Roberto Peternelli Junior (PSL-SP), que é general da reserva, disse não concordar com os termos da nota do Clube. “O pensamento médio de meus colegas é legalista. O Braga Netto pensa como o Fernando. Isso não muda.” /  Marcelo Godoy e Lauriberto Pompeu