Correio Braziliense, n. 21166, 07/05/2021. Política, p. 2

CPI se irrita com dribles de ministro...
Bruna Lima
Maria Eduarda Cardim
Israel Medeiros


Ao se esquivar de responder todas as perguntas dos senadores que pudessem comprometer a relação com o presidente Jair Bolsonaro, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, terminou a sabatina na CPI da Covid, ontem, fortalecendo o papel de aliado do governo em detrimento da carreira médica. Mesmo se posicionando a favor da ciência, em nenhum momento ele disse que o uso de cloroquina para tratar pessoas com a doença não possui eficácia comprovada, justificando que "não faz juízo de valor" às falas do mandatário, garoto-propaganda do medicamento.

A recusa em responder diretamente às perguntas irritou integrantes da CPI. Um deles foi o presidente do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM). "Você está aqui como testemunha, estou aqui para lhe preservar. Não é achismo. É sim ou não", frisou o senador. "Acho que o senhor não entendeu sua posição aqui. O senhor está aqui como ministro e médico. Senão, vamos encerrar a sessão agora."

Para o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apesar da falta de objetividade de Queiroga ao responder questões, o posicionamento do ministro sobre tratamento precoce e o comportamento de Bolsonaro é claro. "O depoimento contribui. Ele tem feito um esforço (para proteger o governo), mas é difícil fazer esforço diante de fatos. O fato é muito mais forte", enfatizou.

Rodrigues acredita que a grande contribuição de Queiroga foi a confirmação de que continua a existir uma espécie de "comando paralelo" no governo, levando em consideração o que os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich revelaram em seus depoimentos. "Qual foi a grande contribuição que o ministro Teich deixou para esta CPI? Foi dizer por que ele saiu e confirmar a tese de Mandetta sobre a existência de um comando paralelo, que, ao que me parece, continua existindo", afirmou ao Correio.

O senador governista Eduardo Girão (Podemos-CE) avaliou o depoimento como importante, "embora acredito que o relator está sendo, de forma evidente, tendencioso, induzindo as respostas e, de certa forma, intimidando as testemunhas", criticou à reportagem. Para ele, Renan Calheiros (MDB-AL) age com parcialidade e "já tem uma posição firmada, já diz quem é culpado ou inocente". "Isso tira a credibilidade da CPI", enfatizou. Calheiros sustentou que não há fulanização na CPI.

Para não responder diretamente às perguntas sobre a cloroquina, Queiroga usou da justificativa de que o tema ainda será deliberado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS), que elabora um protocolo clínico, e que a figura do ministro da Saúde pode ser a última instância a deliberar sobre a formulação (veja abaixo trechos do depoimento do ministro). Por falta de tempo hábil, a oitiva do diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, prevista para ontem, foi remarcada para terça-feira.