O Estado de S. Paulo, n. 46576, 25/04/2021. Internacional, p. A13

Análise: Obstáculos internos de Biden para atingir uma economia verde

Denilde Holzhacker


Joe Biden, no seu discurso na cúpula do clima, foi contundente ao afirmar que “não temos escolha” e os governos devem agir agora por questões morais e econômicas. Ao evocar urgência, ele tenta convencer o público americano, especialmente os congressistas republicanos, que ainda resistem em apoiar medidas que impactam a economia. Por isso, Biden enfatizou que os compromissos ambientais colocarão os EUA na liderança de uma nova economia descarbonizada e de alto grau tecnológico.

Apesar de compromissos ambiciosos, é inegável que o anúncio de Biden tem um forte impacto para a economia e a sociedade dos EUA, especialmente se considerarmos a resistência de setores econômicos e políticos. A pergunta que se coloca é o quanto esse compromisso é viável? Muitos estudos mostram que a redução entre 50% e 52% é factível e poderá ser alcançada, mas é preciso investimentos em energia, transporte, produção industrial e tecnologia.

Estudo da Universidade de Maryland aponta que Biden terá de negociar com o Congresso investimentos para setores de energias renováveis, infraestrutura e apoio à pesquisa e ao desenvolvimento. A aprovação do plano de investimentos, proposto recentemente, é essencial para o desenvolvimento de uma economia verde. O governo também deve se voltar para alterações regulatórias, que tenham impacto na eficiência energética e na emissão de gases que não sejam CO2. A ampliação da cooperação com governos estaduais e municipais para a implementação de políticas públicas deve ser parte da estratégia para ter impacto no longo prazo.

A transição para uma economia verde envolverá também o engajamento do setor privado, com a mudança nos padrões de produção e comprometimento com as metas de redução. Nesse sentido, a cúpula deu um passo importante ao incorporar as empresas no debate. A aliança público-privada permitirá avanços para mitigação dos riscos ambientais. O histórico dos EUA nas negociações climáticas gera certo ceticismo quanto à capacidade de Biden de superar as resistências domésticas. Mas, se houver empenho político, ele pode ter dado um importante passo para consolidar a agenda climática no país.

É Cientista Política e Professora de Relações Internacionais da ESPM São Paulo