Correio Braziliense, n. 21435, 23/11/2021. Política, p. 4

Brasília DF: as lacunas de Moro rumo à terceira via

Carlos Alexandre de Souza


O adiamento das prévias do PSDB, criando mais um embaraço para o partido, terminou por favorecer a intenção do ex-juiz Sergio Moro como candidato da Terceira Via. Depois de se filiar ao Podemos e ser assediado por militares e bolsonaristas arrependidos, Moro ganhou mais espaço no noticiário e nas redes sociais ao sinalizar ao mercado que se aconselha com gente do quilate de Affonso Celso Pastore. É preciso dizer, no entanto, que falta muito para o eleitor saber o que Moro pensa, por exemplo, sobre política econômica. Essa é uma das lacunas no atual estágio da pré-campanha do presidenciável, que ganhou notoriedade pelo discurso anticorrupção. Hoje, Moro deve revelar algo ao participar, no Senado, do debate sobre a PEC dos Precatórios.

Há outros problemas. O mais grave é explicar a atuação na Lava-Jato. Em entrevista à agência portuguesa Lusa, o ministro Gilmar Mendes considera um “desafio” para o candidato convencer o eleitor da coerência e da correção de seus atos como juiz, ministro da Justiça, consultor e presidenciável.

Política, não

Gilmar Mendes ressaltou uma das leituras recorrentes sobre a decisão de Moro de trilhar o caminho das urnas. O ministro do STF considera “correta” a opção do ex-magistrado de se lançar à luta partidária. “É melhor do que fazer política estando no Judiciário”, espicaçou.

 Esse é o problema

O ano eleitoral será marcado por uma profunda crise econômica. Inflação alta, dólar turbinado, gasolina a sete reais, taxa básica de juros próximo a 10%, desemprego na casa dos 15 milhões, desconfiança geral de investidores. No entanto, parece improvável que o debate econômico terá algum peso na campanha.

Tão ruim quanto

A menos de um ano da eleição, a disputa se concentra entre antibolsonarismo e antipetismo. Do ponto de vista econômico, as duas correntes flertam com o desastre. Lula ainda tem uma ligeira vantagem, pois aproveitou um superciclo de commodities e ajudou os mais pobres. Mas a crise deixada por Dilma Rousseff está mais recente na memória do eleitor. 

Outras crises

A tendência é o enfrentamento entre os candidatos se concentrar em ataques pessoais, combate à pandemia, meio ambiente e governo Bolsonaro. Esses temas têm mais apelo popular, particularmente nas redes sociais, do que a pauta econômica.

E a reforma, hein?

Enquanto isso, a reforma administrativa patina no Congresso. Aprovada pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados, a proposta enfrenta o mesmo problema enfrentado pela PEC dos Precatórios: está na “geladeira” do gabinete do presidente da Casa, Arthur Lira, esperando que o governo se mobilize para garantir os 308 votos necessários para aprovar a PEC.

Só em 2023

Lira já sinalizou que aguarda uma ação efetiva do Palácio do Planalto, que não deve ocorrer até o final do ano. Em outras palavras: a reforma administrativa não deve ser aprovada, nem mesmo no ano que vem. Apesar do apelo do empresariado que entrou em campo para apoiar o governo na aprovação das novas regras do precatórios.

De olho na lista

A Primeira Turma do STJ retoma hoje julgamento sobre um item que caiu em desuso por causa da tecnologia: a lista telefônica. O colegiado analisa recurso da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e de empresas de telefonia que contesta a legitimidade do Ministério Público Federal em ação na qual garantiu, junto ao TRF-4, que consumidores do Paraná têm direito de receber os catálogos telefônicos impressos, independentemente de solicitação.

Yes, we are Brazil

Há meses o empresário Luciano Hang ouve críticas e protestos por instalar na fachada das lojas uma réplica da Estátua da Liberdade. Agora, ele tem companhia. A réplica do touro de bronze, símbolo de Wall Street, também é alvo de ataques e até de vandalismo em São Paulo. Em Brasília, costuma-se dizer que a Esplanada dos Ministérios é inspirada na de Washington. (...)

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