O Globo, n. 31600, 12/02/2020. Sociedade, p. 33

Em sabatina no Senado, Weintraub minimizou erros no Enem e no Sisu

Amanda Almeida
Bruno Alfano


Convidado pela Comissão de Educação do Senado para explicar os erros do Enem 2019, o ministro Abraham Weintraub minimizou as falhas na correção do exame, que atingiram quase 6 mil candidatos e levaram 172 mil a procurarem o Ministério da Educação (MEC). Ele também atribuiu a instabilidade no acesso ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), porta de entrada às universidades federais, a problemas na “nuvem”.

O ministro da Educação repetiu sua visão de que os estudantes levaram apenas “um susto” com a falha na correção e reafirmou que “absolutamente todas as provas foram rechecadas”.

— Antes de abrir o Sisu, isso já estava corrigido. Estatisticamente, o impacto na nota de corte não é significativo, é zero.

Weintraub dividiu em três grupos as pessoas que procuraram o MEC para se queixar: um formado por “militante, que se fazia passar por um aluno, entrava colocando terror na rede, e a gente descartava”; um de “pessoas que não estavam entendendo o processo, e nós orientamos”; e o grupo de “alunos que foram mal, mas disseram que a culpa era do Weintraub. Os pais nos procuraram, nós checamos as provas e vimos que haviam tirado a nota mesmo”.

Ele também citou erros no Enem de anos anteriores e afirmou que é possível que o mesmo tipo de falha desta edição tenha acontecido anteriormente, sem ser detectado:

— Não dá para afirmar que sim, nem que não, mas eu diria que esse tipo de coisa pode ter acontecido no passado.

Quanto às falhas no Sisu, Weintraub as atribuiu ao grande volume de pessoas entrando no sistema ao mesmo tempo:

— Das quatro milhões de pessoas que fizeram o Enem, quantas querem acessar o Sisu no primeiro dia, na primeira hora? Todas. Então, num primeiro momento, o sistema vai sendo sobrecarregado, existe uma lentidão. Para fazer os ajustes na nuvem da Microsoft,

o sistema precisou sair do ar, experimentamos três períodos de interrupção no primeiro dia. No segundo dia, houve uma interrupção pela manhã e, a partir da tarde, o sistema operou normalmente.

Voucher para creche e pré-escola

O ministro ainda divulgou, na audiência, detalhes de um programa de voucher para a educação infantil (creche e pré-escola) com R$ 1 bi recuperado pela Lava Jato. De acordo com Weintraub, 1,1 milhão de crianças serão beneficiadas. Isso significa um aporte médio, em um ano, de R$ 909 por aluno — ou R$ 75 pagos em 12 meses. No modelo de voucher, o Estado custeia a mensalidade em escolas privadas.

A educação infantil é a etapa escolar mais cara. Na rede pública, o piso de investimento anual por aluno, em 2020, é de R$ 4,3 mil na creche, e R$ 4 mil na pré-escola.

Segundo João Marcelo Borges, diretor de Estratégia Política do Todos Pela Educação, se o país adotasse os mesmos valores que gasta por aluno na creche pública pagaria uma mensalidade em torno de R$ 500 por criança, ou seja, mais de seis vezes o valor anunciado por Weintraub.

Ainda segundo o ministro, as vagas serão concentradas nas regiões Norte e Nordeste, que, segundo o IBGE, apresentam taxa de analfabetismo bem mais alta que o restante do país e têm média de anos de estudo inferior às do Sudeste, Centro-Oeste e Sul.

Além dele, os ministros Paulo Guedes (Economia) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil) estão participando da criação do programa.

De acordo com o IBGE, em 2018, só 32% das crianças de 0 a 3 anos estavam em creches no Brasil. Isso corresponde a 3,2 milhões de brasileiros. Outros 6,7 milhões não frequentavam essa etapa escolar.

Já na pré-escola, 92,4% estavam matriculadas naquele ano. No entanto, o Brasil deveria ter universalizado essa oferta desde 2016, e quase 450 mil crianças de 4 a 6 anos não estavam na escola como deveriam. Questionado sobre prazos e se pretende aportar mais verba além da recuperada na Lava Jato, o MEC não respondeu.