Correio Braziliense, n. 21430, 18/11/2021. Política, p. 6

Episódio com Ramos derruba trégua no PSDB

Cristiane Noberto


A trégua entre os governadores Eduardo Leite e João Doria começou, ontem, a desmoronar. A quatro dias das prévias do PSDB, um episódio do início do ano passado voltou à tona e colocou os dois tucanos em rota de colisão. Isso, depois de ambos terem se entendido sobre o formato de votação dos filiados e também sobre a divulgação do resultado, que deve sair no final da tarde do próximo domingo.

Em 15 de fevereiro de 2020, dois dias antes da primeira aplicação da vacina contra a covid-19 no Brasil, Leite teria pedido a Doria para adiar a data da vacinação a pedido do então ministro-chefe da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos. O governador de São Paulo, porém, negou o pedido do colega.

“Lamento, Eduardo, que você tenha se prestado a atender um pedido dessa natureza do general Ramos. Diga a ele que vamos iniciar a vacinação, tão logo a Anvisa autorize a utilização da CoronaVac. E que eu estou ao lado da vida e dos brasileiros”, teriam sido as palavras de João Doria à Leite, na época.

O governador gaúcho confirmou que teria, sim, ligado para Doria para reportar o pedido do general — que pretendia que o calendário paulista acompanhasse o da vacinação do governo federal. Contudo, Leite nega que tenha pedido qualquer adiamento.

“Em nenhum momento pedi adiamento da vacinação. O ministro me ligou, eu liguei para o meu colega de partido e colega governador, e relatei o telefonema que recebi para cumprir a praxe. E dei, inclusive, razão a Doria para iniciar a vacinação”, afirmou o gaúcho, por meio de sua assessoria.

A história mostra deixa claro que, nos bastidores, a disputa pela indicação do PSDB à disputa presidencial continua feroz. Desde o início das prévias, o clima entre os dois tucanos é tenso. A mais recente polêmica foi sobre o adiamento na divulgação dos resultados da votação de domingo.

Para piorar, paira a desconfiança entre Leite e Doria com acusações mútuas de que pode haver fraude na eleição interna.

“Em nenhum momento pedi adiamento da vacinação. O ministro me ligou, liguei para o meu colega de partido e relatei o telefonema. E dei, inclusive, razão a Doria para iniciar a vacinação”.
 

Chapa com Alckmin pode deslanchar
Luana Patriolino


A chapa Lula-Alckmin pode se tornar realidade nas eleições de 2022. Desde que foram anunciadas conversas sobre uma aliança entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin para disputar a Presidência da República, em 2022, o mundo político tem convivido com as especulações a respeito dos prós e contras na união entre dois ex-adversários declarados.

Segundo fontes, a ideia da chapa nasceu de uma ala do PT de São Paulo, com ajuda do ex-governador Márcio França, do PSB. Com Alckmin fora do páreo e vice de Lula, França teria o caminho livre para tentar o Palácio dos Bandeirantes.

Alckmin, que ainda não decidiu seu futuro político, continua filiado ao PSDB e condiciona uma definição às prévias do partido para a escolha do candidato tucano à Presidência da República, no próximo domingo. Segundo seus aliados, o objetivo do ex-governador, hoje, é ajudar a derrotar João Doria nas prévias — daí porque tem feito campanha nos bastidores para Eduardo Leite.

Mas enquanto as manobras eleitorais por aqui não se concretizam, Lula continua a fazer contatos na Europa na tentativa de resgatar a imagem do país no continente. Ontem, na França, ele disse que o Brasil precisa voltar ao cenário internacional após o “isolamento” provocado por Bolsonaro. Segundo o petista, o atual governo “fez o Brasil dar as costas ao mundo”.

Isolamento nocivo

“O isolamento político e diplomático do Brasil é nocivo não somente para nosso país, mas também para a comunidade de nações”, salientou Lula, durante conferência na universidade de Sciences Po, de Paris, antes de encontrar com o presidente Emmanuel Macron. Ele deve se encontrar, hoje, com o presidente espanhol Pedro Sánchez.

Na França, Lula almoçou com a prefeita da capital, Anne Hidalgo. A candidata socialista à presidência da França em 2022 recebeu com um abraço o “amigo” brasileiro, a quem concedeu o título de cidadão honorário de Paris, em 2020.

“Ele é um visionário, um homem do povo, uma inspiração e ele tem meu apoio”, elogiou Hidalgo antes do encontro com Lula em um bistrô parisiense.

Já na Espanha, Lula participará do fórum “Cooperação multilateral e recuperação regional pós-covid-19” junto com o ex-presidente do governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero e o atual chanceler, José Manuel Albares, entre outros.