O Estado de S. Paulo, n. 46568, 17/04/2021. Política, p. A4

Em ofício, Aras cobra governadores por 'lentidão' em vacinação

Pepita Ortega
Rayssa  Motta
Bianca  Gomes


Com a chancela do procuradorgeral da República, Augusto Aras, todos os 27 governadores do País receberam ofícios do Ministério Público Federal cobrando esclarecimentos sobre o ritmo de vacinação da covid-19. O pedido de esclarecimento ocorreu dois dias após o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ler o requerimento de criação da CPI da Covid, cujo escopo foi ampliado com a inclusão de investigação de repasses federais para Estados e municípios.

Os documentos foram encaminhados aos governadores anteontem pelo Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia de Covid-19 (Giac). O prazo para resposta é de dez dias. A força-tarefa identificou “discrepância” no número de doses distribuídas pelo Ministério da Saúde e o total de vacinas efetivamente aplicadas.

Levantamento do Giac feito a partir do “vacinômetro” da plataforma Localizasus aponta que, enquanto o governo federal contabiliza um total de 48.088.916 doses dos imunizantes produzidos pelo Instituto Butantan e pela Fundação Oswaldo Cruz enviadas aos Estados e ao DF, 32.160.509 vacinas foram aplicadas.

“As pautas de distribuição das vacinas às unidades federativas direcionam a quais públicos as doses devem ser destinadas”, diz o documento. Como mostrou o Estadão Verifica, entre os fatores que contribuem para o descasamento dos números de doses distribuídas e aplicadas estão as reservas para segunda aplicação e o intervalo de tempo para entrega dos lotes nos postos e para o registro de informações no sistema.

Embora o Ministério da Saúde tenha recomendado a aplicação integral das doses, o Fórum de Governadores decidiu manter a orientação para que os gestores locais continuem estocando lotes para assegurar a segunda aplicação. O reforço é exigido para completa imunização.

O fórum, presidido pelo governador do Piauí, Wellington Dias (PT), afirmou que os governos estaduais são responsáveis pela distribuição das vacinas. “Muitas vezes, a vacina está em deslocamento, em reserva para a segunda dose ou nos freezers para acondicionamento e aplicação.”

Em março, o presidente Jair Bolsonaro – em embate permanente com governadores e prefeitos – levantou desconfiança sobre a vacinação nos Estados. Em live, ele insinuou que governos estaduais e municípios não informavam corretamente dados sobre as doses enviadas.

Alinhado ao Planalto, Aras vem sendo criticado nos bastidores da PGR por, na visão de adversários, tentar se cacifar para a vaga que será aberta no Supremo Tribunal Federal em julho, com a aposentadoria do decano Marco Aurélio Mello.

Reação. O governo de São Paulo divulgou nota na qual afirma que a PGR “deveria concentrar esforços em entender por que o governo federal esnobou 130 milhões de doses no ano passado”. “Todas as informações requeridas serão fornecidas, mas já estão disponíveis, de forma pública e transparente.”

“Não existe lentidão aqui. As vacinas que chegaram já foram todas distribuídas. Inclusive, não tem nenhuma vacina, estamos com escassez. Queremos que o governo federal mande mais, porque está faltando”, afirmou Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo.

“Existe um sistema de informação do Plano Nacional de Imunização onde você precisa prestar contas. O que ocorre é que muitos prefeitos deixam para dar baixa no número de vacinas aplicadas só depois”, disse Ronaldo Caiado (DEM), governador de Goiás. “Ninguém está deixando de vacinar.”