O Globo, n. 31595, 07/02/2020. Rio, p. 14

Subsecretária minimiza geosmina: ‘Tem na beterraba’

Paulo Cappelli


A subsecretária estadual de Recursos Hídricos, Diane Rangel, minimizou ontem a presença de geosmina na água distribuída pela Cedae. Para ela, a substância que tem dado gosto de terra e cheiro forte à água não representa um problema de saúde pública, pois também é encontrada na beterraba. Por sua vez, o gerente de Qualidade da Cedae, Sérgio Marques, afirmou que já não tem sentido o gosto de geosmina em casa e que há pessoas que só percebem alterações porque estão “sugestionadas” e “procuram o gosto”. As declarações foram dadas ontem, em uma reunião com representantes da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental.

— A gente monitora as cianobactérias e as toxinas que são liberadas por elas. Não havia esse risco, por isso não houve uma comunicação formal. Geosmina tem na beterraba. E muita gente come bastante beterraba. A presença de geosmina na água não é um risco efetivo à saúde, senão a beterraba teria que ser abolida do cardápio — disse a subsecretária de Recursos Hídricos, provocando risos de outros convidados.

Procurada pelo Globo, Diane respondeu:

— Foi apenas uma analogia, mas a geosmina de fato não provoca mal à saúde. O Ministério da Saúde já se pronunciou. Ela causa um incômodo, que varia de acordo com cada um. Eu não quis dizer que o problema não tenha de ser solucionado.

Sérgio Marques foi além. Para ele, a Cedae já solucionou a questão.

— Não tem mais geosmina saindo de Guandu. Eu já não sinto mais o gosto lá em casa. Tem também o fator do sugestionamento. Tem gente que já prova a água procurando o gosto. Água potável não é inodora nem insípida. Você tem, por exemplo, que clorar a água. E isso muda o gosto. Tem pessoas menos sensíveis e outras mais sensíveis, que preferem água mineral. Mas aí é questão de gosto, não de saúde.

O Globo tentou entrevistar Sérgio Marques após a reunião, mas ele afirmou que não estava autorizado a falar. Presidente da Cedae, Hélio Cabral também não quis dar entrevista.

Uma integrante do Comitê Guandu, Diana Gelelete, que participou da reunião, foi indagada se está bebendo a água distribuída pela Cedae. Sem graça, respondeu: “Sou sensível ao gosto de beterraba. Não gosto de beterraba”. Contudo, ela acrescentou que voltará a “dar uma chance” à água da companhia.