O Globo, n. 31594, 06/02/2020. Sociedade, p. 30

Voos para Wuhan

André de Souza
Daniel Gullino
Isabella Macedo


As aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) que vão buscar o grupo de brasileiros de Wuhan, epicentro do coronavírus, decolaram no início da tarde de ontem da base aérea de Brasília, com 11 tripulantes e sete médicos, cada uma. O retorno, já para a base aérea de Anápolis (GO), onde será a quarentena, deve ocorrer no sábado. Elas farão paradas para abastecimento em Fortaleza, Las Palmas (nas Ilhas Canárias, que pertencem à Espanha), Varsóvia (Polônia), Urumqi (na China) e, por último, em Wuhan.

O presidente Jair Bolsonaro informou que, assim como os passageiros, os tripulantes e os médicos também passarão por quarentena quando chegarem, mas o prazo em que ficarão isolados ainda está sendo definido pelo Ministério da Defesa. No caso dos passageiros vindos da China, a quarentena vai durar 18 dias.

Com capacidade para 30 passageiros cada uma, as aeronaves vão passar por um processo de desinfecção na volta. Os cuidados são para evitar a chegada do novo coronavírus, que causa febre e problemas respiratórios e já matou mais de 500 pessoas, quase todas na China.

Além disso, os aviões levarão equipamentos, como uma “bolha” que é usada para isolar uma pessoa das demais, caso venha a apresentar sintomas da doença. Antes do embarque na China, serão feitos exames, e quem apresentar sintomas não poderá embarcar.

Contagem de passageiros

A lista dos brasileiros que serão repatriados já sofreu várias mudanças. O grupo que gravou vídeo no Youtube pedindo para o governo brasileiro trazê-los reunia 32 pessoas. Na segunda, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chegou a falar em 40. Anteontem,o advogado que representa os brasileiros disse que eram 28, mas depois aumentou para 29, mesmo número mencionado pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Já a FAB informou que seriam 34, mas poderia aumentar.

Os números vêm mudando porque, entre outros motivos, alguns desistiram e outros manifestaram interesse em voltar ao Brasil entrando em contato individualmente com a embaixada brasileira na China.

— Do pessoal que desistiu de vir, cada um tem um motivo individual. Temos pessoas que desistiram com medo de perder a bolsa de estudos. Outras por pressão dos parentes de lá — explicou ontem o advogado Antonio Rodrigo Machado, que representa o grupo maior.

Dos que retornarão, nem todos são brasileiros. Anteontem, o governo informou que havia quatro parentes chineses. No dia seguinte,o advogado disse que são cinco, inclusive uma que é casada com um argentino e mãe de uma criança brasileira. Ela e a criança estão na China, mas moram no Brasil. O marido não chegou a viajar para lá.

Projeto passa no Senado

Também ontem, o Senado aprovou o projeto de lei que cria regras e procedimentos contra o coronavírus, entre eles a quarentena dos brasileiros e seus familiares que serão trazidos da China. O projeto já tinha sido aprovado na Câmara dos Deputados, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), havia anunciado que a proposta teria prioridade no plenário.

A lei terá vigência apenas durante a emergência internacional da epidemia. O texto não foi alterado no Senado, mas ainda precisa ser sancionado por Bolsonaro para entrar em vigor antes da chegada das pessoas que serão trazidas de Wuhan. Com a emergência internacional, o projeto foi o primeiro a ser aprovado na Câmara em 2020 e o segundo no Senado.

Também no pacote de medidas contra a doença, o Ministério da Saúde anunciou que deverá gastar em torno de R$140 milhões com a aquisição de equipamentos de proteção individual, como máscaras, luvas, gorros, capotes, álcool e protetor facial.

A pasta também estima que vá despender entre R$ 20 mil e  $30 mil por mês, por um período a ser definido, com a instalação de cada um dos mil novos leitos de UTI destinados aos hospitais de referência, o que será feito de acordo coma demanda.

O Brasil monitora 11 casos suspeitos de coronavírus.