O Estado de S. Paulo, n. 46560, 09/04/2021. Metrópole, p. A17

Butantan prevê receber insumo de vacina até dia 20

Gonçalo Júnior 
João  Ker


O Instituto Butantan informou anteontem que interrompeu na semana passada o envase de novas doses da Coronavac, diante do esgotamento do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), matéria-prima do imunizante importada da China. Ontem, o governo de São Paulo afirmou que receberá até o próximo dia 20 a matéria-prima necessária para a retomada e produção de 5 milhões de doses.

Não é a primeira vez que a linha de envase é paralisada à espera da chegada de novos lotes de IFA da China. Entre janeiro e fevereiro, a fábrica também ficou dias ociosa. A falta de matéria-prima para a Coronavac agora influenciou no direcionamento da produção para a vacina Influenza, que é feita totalmente no País sem a necessidade de importação de insumos.

Nos últimos meses, o Instituto Butantan divide a sua produção de vacinas entre a Coronavac, responsável por mais de 80% das aplicações contra a covid-19 no País, e a Influenza, que será objeto de campanha do Programa Nacional de Imunizações (PNI), a partir de segunda. Para atender à demanda e evitar o risco de epidemia de gripe, o instituto já previa reduzir o ritmo de produção da Coronavac em abril, mas garante a entrega de 46 milhões de doses até o dia 30, conforme o contrato com o governo federal.

Em março, foram entregues 22,7 milhões da Coronavac e outros 7,3 milhões da Influenza pelo instituto. Para isso, foi preciso criar uma força-tarefa com 1.600 funcionários trabalhando em quatro turnos. Até junho, a meta é chegar aos 80 milhões de doses do imunizante contra a gripe. "O Instituto Butantan se organizou para cumprir as entregas tanto da vacina contra o coronavírus quanto a da gripe", informou o órgão ao Estadão.

Somando a produção de 100 milhões de doses da vacina contra covid-19 e de 80 milhões de doses contra a influenza, o Instituto Butantan prevê entregar 180 milhões de vacinas ao governo federal ao longo de 2021. Epidemiologistas afirmam que é necessário produzir as vacinas simultaneamente para realizar as duas campanhas.

"A campanha da gripe precisa acontecer até julho, pois é o período de maior transmissão da doença", avalia a epidemiologista Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações entre 2011 e 2019. "Temos de vacinar contra a influenza antes do nosso inverno", diz Ethel Maciel, epidemiologista da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

O Instituto Butantan vem conseguindo dividir seu foco, pois está próximo de cumprir o primeiro contrato com o governo, o de 46 milhões de doses. Um segundo contrato com o Ministério da Saúde, assinado em fevereiro, prevê o fornecimento de mais 54 milhões de doses até 30 de agosto. O instituto paulista informa que vem mantendo entendimentos com a Sinovac no sentido de antecipar essa entrega. Essa antecipação, no entanto, está diretamente relacionada à importação do IFA.

A vacina Influenza protege contra três tipos de gripe. Sua composição é alterada anualmente, por causa da alta taxa de mutação do vírus. Bem conhecida dos brasileiros, ela é distribuída gratuitamente a crianças menores de 6 anos, gestantes, trabalhadores da saúde, idosos com 60 anos e mais, entre outras categorias. A previsão é de que 79 milhões de pessoas sejam imunizadas.

Neste ano, a vacinação contra a influenza, entre 12 de abril e 9 de julho, vai coincidir com a vacinação contra a covid. "Em um cenário de saturação dos serviços de saúde, a vacinação contra a influenza assume particular relevância para proteger populações vulneráveis em risco de desenvolver formas graves da doença e reduzir o impacto das complicações respiratórias atribuídas à influenza", informou o Ministério da Saúde.

Alerta. "Após tomar a Coronavac, é preciso esperar duas semanas para tomar a vacina da gripe. E vice-versa", alerta Ethel Maciel. O cuidado é necessário porque ainda não foram estudados possíveis efeitos de tomar a vacina covid juntamente com outros imunizantes.

Relevância 

"Em um cenário de saturação dos serviços de saúde, a vacinação contra a influenza assume particular relevância para proteger populações vulneráveis."

Ministério da Saúde