O Globo, n. 31590, 02/02/2020. Mundo, p. 40

Celebridades entram na campanha democrata
Paola de Orte


Entre os apoiadores de Bernie Sanders, seus comícios já têm apelido: Bernchella. É uma referência ao Coachella, festival de música que reúne os shows mais disputados todos os anos na Califórnia.

O Bernchella exibe um line-up — expressão usada nos festivais de música para se referir ao calendário de bandas dos eventos — de dar inveja a Lollapalooza e Primavera Sound. Por enquanto, já entrar ampara alistaThe Strokes, Vampire Weekend, Bon Iver e Jack White.

Sanders tem também apoio de celebridades do cinema: o diretor Michael Moore, conhecido pelos documentários com temáticas mais à esquerda, como “Sicko”, sobre o sistema de saúde nos EUA, e “Fahrenheit 9/11”, uma crítica ao governo Bush, foi um dos principais convidados em um comício na sexta-feira em Des Moines, capital de Iowa. Sanders não pôde comparecer. Teve que ficar em Washington para o julgamento do processo de impeachment do presidente Donald Trump.

Além de Moore, subiu ao palco o músico Bon Iver, que fechou a noite cantando o clássico de 1964 de Bob Dylan “The Times They Are AChangin’” para uma plateia de jovens de óculos, camisa xadrez e parka verde militar.

Em tempos de interesse cada vez maior pela política, até políticos contam como celebridade. Três representantes do quarteto que comprou briga com Trump no ano passado — o presidente disse que as deputadas da ala progressista democrata deveriam “voltar para onde vieram” — fizeram campanha para Sanders no estado. Entre elas, a maior celebridade atual no Congresso: Alexandria Ocasio-Cortez.

A quarta representante do pelotão progressista anti-Trump, Ayanna Pressley, também esteve em Iowa, porém para dar apoio a outra candidata: Elizabeth Warren. Warren também tentou empolgar os jovens com celebridades. O apresentador do reality show Queer Eye, Jonathan Van Ness, foi até o estado apoiar a senadora. A capitã da seleção americana de futebol, Megan Rapinoe, também declarou apoio a Warren.

Alguns famosos conseguem dar impulso aos candidatos mais inusitados. O comediante Dave Chapelle declarou apoio a Andrew Yang, que, por enquanto, está em sexto lugar nas pesquisas nacionais. Mas, em Iowa, onde Chapelle esteve, Yang surpreende. Em uma pesquisa informal com universitários, é o mais popular entre o público jovem democrata. Entre os jovens republicanos, o mais popular ainda é Trump.

Os principais pré-candidatos da legenda

O senador “socialista democrata” de 78 anos propõe cancelar a dívida estudantil e criar um sistema de saúde totalmente público. As posições à esquerda e o ataque cardíaco que sofreu em outubro lançam dúvidas sobre sua candidatura. Ele, porém, tem apelo forte entre os jovens, e subiu nas pesquisas recentes.

Joe Biden

Ex-vice-presidente de Obama, o político de 77 anos é o preferido da população negra. Tido como moderado, nas pesquisas aparece com maior vantagem sobre Trump em estados-chave. É personagem do impeachment do presidente, que pressionou a Ucrânia a investigar negócios do seu filho, Hunter.

Elizabeth Warren

A senadora de 70 anos disputa com Sanders os votos da ala progressista do partido. Sua principal proposta é o imposto sobre os muito ricos, que serviria para financiar o abatimento da dívida de estudantes e para a criação de um sistema público de saúde. Warren já esteve entre os favoritos, mas passa por momento de baixa.

Pete Buttigieg

Aos 38 anos, o ex-prefeito de South Bend (Indiana) é o primeiro gay a concorrer à nomeação democrata. Veterano de guerra, com posições centristas, é o que mais acena ao eleitorado republicano. O “prefeito Pete” chegou a liderar em Iowa, mas perdeu espaço quando ficou claro que não tem o apoio dos negros.

Michael Bloomberg

O bilionário ex-prefeito de Nova York pelo Partido Republicano foi o último a entrar na corrida democrata. Aos 77 anos, não tem pretensão de ganhar em Iowa: investe sua fortuna em estados como Michigan, visando a ganhar o apoio do eleitor que é contra Trump, mas não apoia mudanças radicais na economia.

Amy Klobuchar

A senadora de 59 anos atrai eleitores do Meio-Oeste americano, de onde vem. Os fazendeiros de Iowa, que vêm sofrendo com a guerra comercial com a China, a consideram uma opção no campo centrista. O jornal New York Times apoia sua candidatura, assim como a de Elizabeth Warren.

Andrew Yang

Aos 45 anos, o descendente de taiwaneses e empresário do ramo de tecnologia é o único não branco entre os que continuam na disputa. O fator diversidade e sua proposta de criar uma renda universal de U$ 1.000 por mês para todos os americanos entre 18 e 64 anos têm atraído a atenção dos jovens democratas.