O Estado de S. Paulo, n. 46559, 08/04/2021. Política, p. A10

Bolsonaro reforça defesa de missas e cultos presenciais

Lauriberto Pompeu
Luis  Lopes
Denise  Paro


No dia do julgamento no Supremo Tribunal Federal sobre a liberação ou não de cultos religiosos presenciais durante a pandemia, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a abertura de igrejas no País. "Espero que o STF, ao julgar liminar de Kassio Nunes (Marques), que a liminar seja mantida ou que alguém peça vista para discutir mais", disse Bolsonaro em Chapecó (SC). "Qual é o último local que uma pessoa procura antes de cometer um suicídio? A igreja. Quem não é cristão, que não vá."

A sessão de ontem do Supremo foi encerrada depois da leitura do voto do ministro Gilmar Mendes. O julgamento será retomado hoje.

Bolsonaro voltou ao assunto horas depois, ao participar de uma outra cerimônia, em Foz do Iguaçu (PR). "Como estamos em um país onde mais de 90% do seu povo é cristão, eu acredito que hoje (ontem) o Supremo vai dar uma boa resposta no tocante à abertura de templos e igrejas", disse o presidente. Segundo especialistas, a reunião de pessoas em ambientes fechados é uma das principais formas de proliferação do novo coronavírus.

O presidente iniciou ontem sua visita à Região Sul por Chapecó, apontada por ele como "exemplo" no combate à covid19. A cidade, no entanto, enfrentou colapso de saúde em fevereiro, quando precisou transferir pacientes, adotar medidas rígidas de restrição de circulação e ampliar o número de leitos. Apesar da redução de casos, Chapecó ainda tem 100% das UTIS lotadas no SUS e na rede privada, e acumula mais mortes por 100 mil habitantes do que o País (mais informações nesta página).

Na segunda-feira, Bolsonaro disse que Chapecó faz um "trabalho excepcional" contra a covid-19 porque deu "liberdade" a médicos para prescreverem o "tratamento precoce", com uso de medicamentos sem eficácia para a covid-19, como a hidroxicloroquina. "Não sei como salvar vidas, não sou médico, mas não posso tolher liberdade do médico", afirmou o presidente no discurso de ontem.

"Se não tem remédio específico, tem que procurar outra alternativa. Como na guerra do Pacífico. Não tinha sangue para transfusão e se injetava água de coco no soldado. E deu certo", completou Bolsonaro, citando ocasião em que água de coco foi usada no soro de soldados, e não injetada neles.

Acompanhado do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o presidente comparou a pandemia do coronavírus a outras crises na saúde, como a do HIV. "Naquela época, foi usado AZT e não era comprovado cientificamente. Se não tivéssemos usado, não teríamos o coquetel. Hoje as pessoas levam uma vida quase normal."

'Liberdade'. O presidente voltou a dizer que não é favorável a medidas restritivas. "Eu temo por problemas sociais gravíssimos no Brasil, converso com as nossas Forças Armadas. Teremos efetivo para conter isso se eclodir no Brasil? Tô me lixando para 2022. Não vai ter lockdown nacional. O nosso Exército não vai para rua para manter o povo dentro de casa. A liberdade não tem preço", afirmou.

Infectologistas ouvidos pelo Estadão discordam que o "tratamento precoce" foi responsável pela queda de números em Chapecó. "Basicamente, (a queda ocorreu) por conta do distanciamento social mais intensivo feito entre o final de fevereiro e o início de março, testagem mais ampla, isolamento dos positivos e contactantes. Isso fez diminuir o número de casos", disse a infectologista Carolina Cipriani Ponzi. / Lauriberto Pompeu,  Luis Lopes e Denise Paro, Especiais para O Estadão