O Globo, n. 31574, 17/01/2020. País, p. 8

Bolsonaro: chefe da Secom continua no cargo

Daniel Gullino


O presidente Jair Bolsonaro defendeu ontem o secretário especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Fabio Wajngarten. Bolsonaro afirmou que, pelo que analisou até agora, “está tudo legal” com Wajngarten e disse que ele irá continuar no cargo.

Na última quarta-feira, o jornal “Folha de S. Paulo” revelou que a empresa da qual Wajngarten tem 95% da sociedade mantém contratos com emissoras de televisão e agências de publicidade que atendem o governo federal. É tarefa da Secom direcionar os recursos de propaganda do Palácio do Planalto. O caso será analisado pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República em sua primeira reunião do ano, no próximo dia 28. O secretário nega ter cometido irregularidades.

— Não vou te responder isso daí — disse Bolsonaro, na saída do Palácio da Alvorada, questionado sobre se Wajngarten deveria deixar sua empresa. — Se for ilegal, a gente vê lá na frente. O que eu vi até agora, está tudo legal com o Fabio. Vai continuar. É um excelente profissional.

Se fosse um porcaria igual alguns que tem por aí, ninguém estaria criticando ele.

A FW Comunicação e Marketing, do chefe da Secom, mantém contratos com a Band e com a Record. Sob o comando de Wajngarten, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência passou a destinar para essas emissoras fatias maiores da verba publicitária para TV aberta.

Procurada, a Band afirmou que tem contrato com a empresa desde 17 de dezembro de 2004, e que recebeu no ano passado menos recursos de publicidade do governo federal do que no ano anterior. Já a Record disse que não se pronunciaria.

Reação no Planalto

No primeiro momento, o Palácio do Planalto tratou o assunto como “mentira absurda, ilação leviana”, mas, ao longo da quarta feira, a pressão aumentou e integrantes do governo passaram a adotar a postura de cautela. No fim daquele dia, após reunião convocada às pressas por Bolsonaro para que o secretário apresentasse documentos relativos à sua empresa, a ordem era esperar a apuração dos fatos.

Bolsonaro foi alertado pelo ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, que se Wajngarten não fez declarações oficiais corretamente sobre o vínculo com a empresa, o único caminho é que ele peça para deixar o governo.