Correio Braziliense, n. 21424, 12/11/2021. Política, p. 4

Ex-juiz empolga governistas



No ato de filiação de Sergio Moro, realizado na última quarta-feira, em Brasília, dois ex-ministros de Jair Bolsonaro prestavam atenção ao discurso que o antigo colega de equipe ministerial fazia, repletos de críticas ao presidente. O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, que comandou a Secretaria de Governo, e Luiz Henrique Mandetta, ex-ministro da Saúde, eram os principais nomes entre os ex-aliados de Bolsonaro que se aproximaram de uma possível candidatura presidencial do ex-ministro da Justiça.

Mas, nas primeiras filas do auditório Ulysses Guimarães, parlamentares eleitos na onda do bolsonarismo, em 2018, já ocupavam as cadeiras para ouvir Moro, deixando o presidente de lado. Nessa plateia de ex-bolsonaristas, além dos ex-ministros estavam, por exemplo, os deputados federais Júnior Bozzella (PSL-SP), Professora Dayane Pimentel (PSL-BA), Julian Lemos (PSL-PB) e Luis Miranda (DEM-DF) — pivô de uma crise direta com o presidente, por conta de denúncias feitas pelo seu irmão em relação à pressão para aquisição de vacinas contra a covid.

“Continuamos combatendo a corrupção. Não nos aliamos a corruptos de nenhum lado. Não fechamos os olhos para os erros de ninguém”, afirmou Miranda, que fez questão de posar para fotos ao lado de Moro.

Santos Cruz concorda que o ex-juiz pode se tornar a opção preferencial para quem, como ele, ficou decepcionado com o Bolsonaro. “Na campanha de 2018, existia um entusiasmo muito grande para encerrar aquele período do PT. E Bolsonaro se apresentou com um discurso do qual não cumpriu nada”, lembrou o general.

Dentro do Podemos, Moro já desperta a admiração de aliados de Bolsonaro, como os senadores Eduardo Girão (CE) e Marcos do Val (ES), que atuaram na CPI da Covid alinhados ao Palácio do Planalto. Os dois compareceram ao ato de filiação. Girão, aliás, considerou o discurso de Moro “sereno e forte”.

 Acenos aos tucanos

Mas ainda pairam dúvidas se Moro é mesmo candidato ao Planalto ou se, em mais alguns meses, pode dar uma guinada de 180º e buscar uma vaga ao senado pelo Paraná. Isso porque ele vem mantendo contatos com o governador Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB — ele disputa a indicação do partido no próximo dia 21. Assim, na bolsa de apostas eleitorais, não estaria afastada uma chapa que unisse ambos.

Leite, aliás, confirmou que foi convidado para a cerimônia de filiação de Moro ao Podemos e não nega os entendimentos. “Ele me convidou, mas um conflito de agendas me impediu de estar presente. Converso com Moro assim como converso com outros partidos e líderes políticos. Mas meu foco é vencer as prévias e unir o PSDB para liderarmos o centro democrático a favor do Brasil”, disse.

Partido de Mourão agora quer presidente

Após o presidente Jair Bolsonaro acertar filiação com o PL, o PRTB, partido do vice-presidente Hamilton Mourão, formalizou um convite para o presidente se filiar ao partido. Em vídeo publicado no site da legenda, a presidente nacional da sigla, Aldineia Fidelix, convidou o chefe do Executivo e seus filhos para entrarem na legenda. Segundo ela, o PRTB está “de braços abertos para recebê-los”.

“Na qualidade de presidente nacional do PRTB, eu, Aldineia Fidelix, venho aqui fazer um convite ao nosso presidente Jair Messias Bolsonaro, a seus filhos Flávio Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Carlos Bolsonaro, grupos políticos e militantes para filiar-se ao PRTB”, anunciou Aldineia, em vídeo. A presidente nacional da sigla classifica o PRTB como “partido genuinamente da direita conservadora”, em um aceno à convergência de ideias com o chefe do Executivo.

Ao som do Hino Nacional brasileiro, Aldineia reforça o apoio dado a Bolsonaro nas últimas eleições. “Já estivemos juntos em 2018 e parece ser destino do PRTB estar à disposição para lutarmos pelo bem do nosso povo e da nossa pátria”, disse. “Portanto, eis-me aqui, eis aqui o PRTB. Damos boas vindas ao nosso presidente Jair Messias Bolsonaro. Vamos juntos, mais uma vez, em 2022, rumo a vitória”, acrescentou.

Lema integralista

A presidente nacional do partido concluiu o vídeo com o lema “Deus, pátria e família” — do extinto Movimento Integralista, que, nos anos 1930, flertou com o nazismo e com o fascismo.

Após ter brigado com o comando do PSL, Bolsonaro está, desde novembro de 2019, sem partido. Depois de tentar fundar o Aliança pelo Brasil, que não avançou por não ter conseguido as assinaturas necessárias para formalizar a sigla no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente negociou a entrada em vários outros partidos, entre eles o PRTB que agora o quer. O chefe do Executivo, no entanto, enfrentou resistência pelas exigências às legendas.

No entanto, nesta semana, o presidente acertou sua filiação ao PL e a assinatura da ficha de filiação deve ocorrer no próximo dia 22. O presidente estadual do PL no Rio de Janeiro, Altineu Côrtes, disse ainda que o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), filho do presidente, também entrará para a legenda no mesmo dia.

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