O Globo, n. 31605, 17/02/2020. Economia, p. 21

Pagamento por aproximação



Pagar as compras apenas com dinheiro vivo é coisa do passado faz tempo. Agora o que também está se tornando obsoleto é o hábito de colocar o cartão na maquininha e inserir a senha. Atualmente, para muitos consumidores, basta aproximar o cartão, lançar mão de um QR Code no celular ou até mesmo usar uma pulseira para efetuar a compra. Essa tecnologia é conhecida como pagamento por aproximação, um nicho que vem crescendo no Brasil e ganhando adeptos. Não por acaso, tem se tornado também um negócio atrativo para empreendedores antenados com a inovação.

O pagamento por aproximação se dá por meio de uma tecnologia chamada NFC (Near Field Communication) ou “comunicação por campo de proximidade”, em português. Com essa ferramenta, é possível efetuar pagamentos apenas aproximando o dispositivo da maquininha de cartão. Até um certo limite de valor (geralmente de R$ 50) não é preciso digitar a senha, mas, quando o valor da transação é mais alto, a senha pode ser solicitada por uma questão de segurança.

“Cerca de 90% das maquininhas no Brasil hoje já estão habilitadas a receber via aproximação do dispositivo”, afirma Orlando Purim, diretor-executivo da Atar, uma startup criada em Timbó, Santa Catarina, que desenvolveu em 2016 uma pulseira (a Atar Band) à prova d’água e sem uso de bateria. Para fazer um pagamento, basta aproximá-la da máquina de cartão e, dependendo do valor da compra, digitar a senha. A wearable (tecnologia vestível) foi um sucesso naquele ano, recorda Purim.

“Vendemos mil pulseiras nos primeiros três meses”, afirma, sem informar quantas são comercializadas atualmente. O empresário diz, no entanto, que o volume de transações de clientes que usam a pulseira aumentou 1.386% entre 2018 e 2019, o que significa que a tecnologia vem conquistando cada vez mais adeptos no país.

Além da pulseira, a Atar disponibiliza para o cliente uma conta corrente pelo aplicativo da empresa, na qual é possível fazer transferências, depósitos e pagamento de contas (tudo online), e um cartão (com a bandeira Mastercad) que pode ser inserido na maquininha ou fazer pagamento por aproximação. O empresário não divulga o faturamento da Atar, mas conta que, de 2018 para 2019, a receita da empresa aumentou 122%.

Investidor-anjo

A Atar foi criada por Purim e mais dois sócios, que investiram R$ 90 mil para montar a estrutura do negócio. Pouco depois, receberam R$ 1 milhão de investidores-anjos, o que fez a empresa decolar. Hoje são 18 funcionários que respondem pelo suporte, atendimento e sistemas antifraudes. O desenvolvimento de hardware e software é feito internamente; já a produção é terceirizada. “A pulseira é feita no Brasil, mas os os componentes vêm de várias regiões do país”, conta.

A expectativa para 2020 é lançar a versão 2.0 da pulseira, incrementar a conta digital, com a implementação de novos serviços, e aumentar o foco em QR Codes. “Pagamento por aproximação é rápido, prático, simples e seguro. Queremos ajudar as pessoas a se livrarem de carteira, cartões e moedas, e melhorar a experiência de compras e pagamentos presenciais”, conclui Purim.

A Neon é outra startup que nasceu há quatro anos focada em serviços financeiros digitais. Em março de 2019, a empresa lançou seu cartão de pagamento por aproximação, com as funções de débito e crédito. Quem abre uma conta pelo aplicativo da empresa ganha o cartão (de bandeira Visa). No primeiro ano de operação, a Neon contabilizava 5 mil clientes. Hoje são cerca de 2 milhões em todo o país aptos a fazer pagamentos por aproximação.

A empresa também não abre os números de faturamento, mas diz que entre 2018 e 2019 a receita cresceu 900%. “Estamos focados em atender clientes de todas as classes sociais. As soluções digitais podem ser oferecidas em diversos níveis. Abrir a conta pelo App é fácil e rápido, demora em geral quatro minutos. Ainda há muito espaço para crescer”, ressalta Guilherme Rovai, Head of Product Design da Neon.