O Globo, n. 31572, 15/01/2020. Mundo, p. 26

EUA vão indicar Brasil como prioridade na OCDE

Eliane Oliveira


Após meses de incertezas, os Estados Unidos resolveram se posicionar de forma mais firme em torno da candidatura brasileira a membro da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os EUA deverão apresentar o Brasil como sua prioridade para fazer parte do organismo, durante reunião do conselho da OCDE que acontecerá hoje, em Paris. A informação foi antecipada pelo colunista da revista Época Hussein Kalout, cientista político e professor da Universidade Harvard.

‘Evolução natural’

Washington encaminhou uma carta à OCDE dizendo que quer que o Brasil se torne o próximo país a entrar para o organismo, o chamado “clube dos ricos”, que reúne 36 países. Isso significa que a situação mudou e, agora, o Brasil passou na frente da Argentina e da Romênia na lista preferencial dos EUA. Segundo uma fonte, o governo americano já informou sua decisão ao Brasil.

“O governo brasileiro está trabalhando para alinhar as suas políticas econômicas aos padrões da OCDE, enquanto prioriza a adesão à organização para reforçar as suas reformas políticas”, diz um trecho da carta.

Na nota do Departamento de Estado americano, é lembrado o compromisso do presidente Donald Trump, durante uma visita do presidente Jair Bolsonaro a Washington em março de 2019, de apoiar o Brasil. Segundo as autoridades americanas, a promessa está sendo cumprida.

“Nossa decisão de priorizar a candidatura do Brasil agora como o próximo país a iniciar o processo é uma evolução natural de nosso compromisso, reafirmado pelo secretário de Estado [Mike Pompeo] e pelo presidente Trump em outubro de 2019”.

No entanto, em outubro do ano passado, o próprio Departamento de Estado americano defendeu formalmente o ingresso da Argentina e da Romênia como membros da OCDE, em uma carta enviada ao organismo. O Brasil ficou de fora na ocasião.

A priorização do Brasil pode ter sido ajudada pelo fato de o novo presidente da Argentina, Alberto Fernández, ainda não ter deixado claro o que fará em relação à OCDE. Essa definição, acredita um técnico, acabou contribuindo para que os brasileiros “furassem a fila”.

Em sua coluna publicada ontem pela Época, o cientista político Hussein Kalout disse a medida teria como fim recompensar os brasileiros pelas diversas concessões feitas pelo Brasil, em uma verdadeira operação de marketing. O governo brasileiro tem sido alvo de críticas, devido a esse alinhamento com a Casa Branca de Trump.

Desde o ano passado, o Brasil se tornou um grande aliado dos EUA em inúmeras questões. Entre alguns exemplos, aumentou a cota de importação de trigo americano, declarou-se a favor do embargo a Cuba e, mais recentemente, divulgou uma nota se posicionando ao lado de Washington no assassinato do general iraniano Qassem Soleimani, chefe da Força Quds, da Guarda Revolucionária do país.

‘Relação estratégica’

Fontes do governo brasileiro, porém, negaram que esse apoio mais assertivo de Washington seja uma forma de compensar o Brasil.

— O que existe é uma relação estratégica que começou a ser trabalhada desde janeiro de 2019 —argumentou uma fonte, acrescentando que as relações com os americanos seguem os pilares da democracia, do crescimento econômico e da segurança.