Correio Braziliense, n. 21418, 06/11/2021. Cidades, p. 15

Feminicídio ligado à facção

Darcianne Diogo


A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) está no encalço dos dois homicidas envolvidos na morte da jovem Ana Carolina de Lima Araújo, de 25 anos, executada com um tiro, no último domingo, em um motel de Taguatinga Sul. Ontem, Pedro Henrique Sampaio, conhecido como "Zoio" foi preso temporariamente. Os três são integrantes da maior facção do DF, o Comboio do Cão (CDC).

O caso é tratado como feminicídio pela 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul). No dia do crime, Ana Carolina, os três acusados e uma mulher ingeriam bebida alcoólica, quando decidiram, na madrugada, ir ao Motel Play Time, na QSG de Taguatinga. O grupo acionou um motorista de transporte de aplicativo para ir ao estabelecimento. Eles chegaram por volta das 1h50 e às 4h11 pediram a conta.

Câmeras do circuito interno de segurança registraram o momento em que três pessoas saíram a pé por uma porta lateral. Quando funcionários foram fazer a vistoria na suíte, encontraram o corpo de Ana Carolina caído ao chão e com uma marca causada provavelmente por tiro. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e a Polícia Militar do DF (PMDF) foram acionados, mas a vítima estava sem vida.

A perícia da PCDF compareceu ao local e constatou que a jovem morreu com um disparo causado por arma de fogo na nuca. Com as diligências, os investigadores identificaram os envolvidos e solicitaram as prisões temporárias à Justiça do DF. Os mandados foram deferidos e cumpridos ontem.

Crime e investigação

Pedro Henrique, preso ontem, é apontado como o responsável por efetuar o disparo de arma de fogo. Segundo as investigações, Ana Carolina mantinha um relacionamento com Ruan Rodrigues de Souza, 27 anos, conhecido como R7. O criminoso teria descoberto uma traição da jovem dias antes do crime. Não se sabe, no entanto, se essa seria a real motivação do feminicídio.

Ruan está foragido. Além dele, a polícia busca por José de Alencar Fernandes Filho, o "Filhote". Os dois tiveram os mandados de prisão temporária decretados, mas não foram localizados até o fechamento desta edição. O Correio teve acesso ao mandado de prisão expedido pela Justiça. No documento, ressalta-se que a prisão temporária do acusado "é imprescindível para a continuidade das investigações, porquanto será possível ouvi-los para esclarecer a dinâmica do crime e indicar a localização da arma utilizada para confronto balístico. Somado a isso, também é indispensável garantir a integridade física das testemunhas."

Dois dias depois do assassinato de Ana Carolina, Ruan gravou um vídeo ameaçando um suposto rival, morador do Guará 1. Na filmagem, o criminoso aparece com outros dois homens em um carro. O ocupante da frente carrega duas armas no colo, enquanto o outro está no banco de trás.

O vídeo circulou pelas redes sociais. Se intitulando como R7, o suspeito diz: "Parceiro, nós 'tá' dominando. [...] 'Tamo' armado, e os cabra 'tão' tudo morrendo. Tem um ali no Guará para nós matar. Tem um ali que tentou contra nós, no Guará 1. Declarou 'cabuloso' contra o Comboio (referindo-se à facção)", falou.

Ficha criminal

Integrante de facção, Ruan tem uma passagem criminal de 2015 pelo crime de roubo. Com um simulacro de arma de fogo, ele e um adolescente abordaram uma mulher em via pública, na QSF 16, de Taguatinga. Sob grave ameaça, a dupla anunciou o assalto no momento em que a vítima chegava em casa de carro. Ao parar para abrir o portão eletrônico, a mulher foi enquadrada pelos dois criminosos.

Ruan disse à mulher que a mataria, caso não abrisse a porta, ligasse o carro e o conduzisse imediatamente. Como consta na denúncia do Ministério Público do DF, o adolescente abriu a porta do passageiro e entrou no veículo. Assustada, a vítima saiu do automóvel e Ruan tomou a chave e fugiu com o menor em um Siena.

Os dois foram detidos pouco tempo depois do crime pela polícia, após a vítima gritar por socorro e acionar policiais militares que passavam pelo local. A dupla chegou a abandonar o carro e tentar fugir a pé, mas foram alcançados e presos.

À época, Ruan teve o mandado de prisão flagrante convertido em preventiva. Ele foi condenado a uma pena de mais de 10 anos, mas teve a liberdade provisória concedida pela Justiça. A PCDF divulgou as fotos dos dois foragidos para conhecimento da população. A corporação pede para que, caso alguém saiba do paradeiros dos suspeitos, ligue para o número 197 da Polícia Civil. O sigilo é garantido.