O Globo, n. 31567, 10/01/2020. País, p. 9

Bretas aceita denúncia contra ex-presidente do Paraguai

Juliana Castro


O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, aceitou na quarta-feira a denúncia contra o ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes e o doleiro Dario Messer. No fim de dezembro, a força-tarefa da Lava-Jato no Rio denunciou os dois e outras 17 pessoas alvos da operação Patrón, em novembro. Entre os acusados há 11 brasileiros, sete paraguaios e um uruguaio.

O Ministério Público Federal (MPF) acusa os réus de formar uma organização especializada em lavagem de dinheiro e outros crimes, que operava pelo menos desde os anos 2000, com a prática de câmbio ilegal e evasão de divisas a partir dos países de origem. Conhecido como “doleiro dos doleiros ”, Mes ser ficou foragido por mais de um ano da força-tarefa. Ele foi preso em julho de 2019.

Os procuradores dizem que Cartes, denunciado por organização criminosa, pertencia a um núcleo da organização criminosa que reunia empresários, políticos e advogados dedicados a garantir suas atividades. O MPF aponta a associação do expresidente do Paraguai à organização entre maio de 2018 e julho de 2019, período em que Messer ficou foragido. Os investigadores afirmam que o ex-presidente paraguaio intercedeu pelo doleiro, apesar das ordens de prisão nos dois países.

O Globo não conseguiu contato com as defesas de Messer e Cartes. Na denúncia, o MPF diz que Cartes destinou cerca de US$ 500 mil a Messer, valor que teria sido ocultado pelo empresário Antonio Joaquim da Mota até a entrega para a namorada do doleiro, Myra de Oliveira Athayde, que também virou ré. O dinheiro seria destinado a ajudar Messer a escapar das autoridades brasileiras. Athayde também foi presa na operação Patrón.

Sócios antigos

Segundo a investigação, Dario Messer e Horacio Cartes têm vínculos empresariais desde a década de 1980, quando o doleiro abriu uma casa financeira no Paraguai que tinha como sócio o pai de Cartes. Messer e Cartes teriam ligações, segundo o MPF e a PF, com a movimentação de recursos provenientes do narcotráfico, do tráfico internacional de armas e do contrabando de cigarros ilegais.

A investigação contra o grupo nasceu no âmbito das apurações do esquema do ex-governador Sergio Cabral, condenado a 267 anos de prisão. O MPF aponta que ele usou serviços da rede de Messer no Uruguai para ocultar cifras milionárias oriundas de corrupção.

Na denúncia, o MPF aponta crimes cometidos desde 2011 e afirma que eles não cessaram após a prisão de Messer. Além da ajuda para que o doleiro se mantivesse foragido, os denunciados são acusados pelo MPF de ocultar grandes somas de dinheiro ilícito. Segundo os investigadores, cerca de US$1,5 milhão foi movimentado pelo grupo.