O Globo, n. 31437, 02/09/2019. País, p. 6

Bolsonaro passará por quarta cirurgia após facada
Jussara Soares
Elisa Martins


O presidente Jair Bolsonaro vai passar por uma nova cirurgia no abdome no próximo domingo. Boletim assinado pelo médico Ricardo Peixoto Camarinha, e publicado nas redes sociais do presidente, informa que Bolsonaro “foi avaliado clinicamente e será submetido a cirurgia de correção de hérnia incisional, que surgiu em decorrência das intervenções cirúrgicas previamente realizadas”.

A cirurgia, prevista para o domingo 8, será realizada um ano e dois dias depois de Bolsonaro ter sido esfaqueado durante um ato de campanha por Adélio Bispo de Oliveira. Essa será a quarta cirurgia pela qual Bolsonaro passa desde o atentado.

O procedimento será feito Hospital Vila Nova Star, no Itaim Bibi, Zona Sul da capital paulista. A nova intervenção é necessária porque surgiu uma hérnia (uma saliência de tecido) no lugar da incisão anterior.

Na manhã de ontem, Bolsonaro publicou em suas redes sociais que “curtiria” dez dias de “férias” em decorrência da cirurgia. Mas, segundo o cardiologista Leandro Echenique, que acompanha o presidente, a recuperação deve levar menos tempo.

— Tempo de internação hospitalar não dá para afirmar, são muitas variáveis. Ele (Bolsonaro) colocou nas redes sociais dez dias, mas a gente acha que provavelmente é menos que dez dias — afirmou.

A expectativa é que Bolsonaro esteja recuperado e embarque no dia 22 de setembro para a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas, em Nova York.

De acordo com Echenique, Bolsonaro não sente dor intensa, mas um incômodo no local da facada. A hérnia no abdome chega a ficar visível sob a roupa, de acordo com o médico.

— É uma hérnia incisional, ou seja, na região da cirurgia anterior. Isso pode ocorrer com todo mundo que faz cirurgia do abdome. É bem mais simples que as cirurgias anteriores. Não é um caso de aderência, de rompimento interno de alguma estrutura, nada disso. É uma hérnia na parede abdominal. A hérnia que ele tem é como se fosse um abaloamento. A pessoa percebe uma ondulação no abdome.

Má cicatrização

O novo procedimento pelo qual passará o presidente é uma intervenção de baixa complexidade e comum em caso de pacientes que já foram operados na região abdominal.

Segundo o médico Fábio Campos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia, a complicação desenvolvida por Bolsonaro “é natural em pessoas que passaram por três procedimentos abdominais, sendo o primeiro deles em condição crítica”.

— Na incisão para as cirurgias, ele abriu a barriga três vezes. Isso, por si só, já é uma situação que aumenta a chance de ter uma hérnia incisional — explica o especialista, do Hospital Sírio-Libanês.

Campos diz que esse tipo de hérnia ocorre quando a parte mais forte da parede abdominal, chamada aponeurose, não consegue cicatrizar.

— Ela fica logo abaixo da camada de gordura. A hérnia se caracteriza pelo rompimento dessa camada da aponeurose. Isso é percebido ao fazer força na barriga, e se forma um abaulamento no abdome. Um exame de tomografia comprova isso — diz o médico.

Segundo Campos, a complicação “não é rara nem grave”.

— É considerada uma cirurgia limpa. Os médicos provavelmente terão que expor todas as bordas da aponeurose, e fechar. É como abotoar uma camisa, depois que se rompem os botões. Aí dão pontos para fechar a aponeurose de novo. Provavelmente será colocada uma tela. Como é um corpo estranho, essa tela vai ajudar a forçar o organismo a reagir e formar uma espécie de carapaça que ajudará na cicatrização — afirma.

O médico diz que a única complicação do procedimento seria se Bolsonaro tiver muitas aderências, ou “dobras”, no abdome. Aí os médicos terão que avaliar se será necessário abrir totalmente a barriga.

— É uma cirurgia que pode ter riscos, mas não são grandes nem graves — conclui Campos.

Em pacientes com casos semelhantes, a depender do tamanho da hérnia, a alta do hospital é dada em cerca de quatro dias, segundo o especialista.