O Globo, n. 31437, 02/09/2019. País, p. 4

Um domingo com Edir Macedo, Silvio Santos e futebol

Gustavo Schmitt


Depois de ser examinado por seus médicos e receber a notícia de que terá que passar por nova cirurgia no próximo fim de semana, o presidente Jair Bolsonaro foi abençoado pelo bispo Edir Macedo — fundador da Igreja Universal do Reino de Deus — durante culto no Templo de Salomão, em São Paulo, e encerrou o domingo na companhia de Silvio Santos.

Bolsonaro e Silvio assistiram juntos à partida entre Flamengo e Palmeiras, na casa do apresentador, no Morumbi, zona sul da capital paulista. O time do presidente acabou derrotado por 3 a zero pelo rubro-negro.

Pela manhã, diante de cerca de 9,5 mil fiéis, Bolsonaro se ajoelhou no altar do Templo de Salomão e foi ungido pelo bispo. Macedo pôs as mãos sobre a cabeça do presidente e usou um óleo para dar a unção. O bispo afirmou que o presidente “é um homem de coragem”, embora “a imprensa seja contra o governo”. Em seguida, orou :

— Uso de toda a autoridade para abençoar este homem e lhe dar sabedoria. Que este país venha a ser transformado. Para lhe dar ânimo saúde e vigor. Para que o presidente possa arrebentar. Não porque sou eu que estou aqui. Mas porque é o Espírito Santo.

A unção durou cerca de cinco minutos e, depois dela, o presidente se levantou e abraçou o bispo.

No início do culto, Macedo revelou a tentativa de levar outro candidato a presidente até o templo durante a campanha do ano passado, e lamentou não ter conseguido. Ele, no entanto, não disse o nome desse candidato.

Após a cerimônia, Bolsonaro almoçou com Edir Macedo em uma residência do bispo anexa ao templo e, de lá, seguiu para a casa de Silvio Santos.

Além do filho Jair Renan, ganhou a companhia de familiares do dono do SBT, incluindo o jogador Alexandre Pato, casado com Rebeca Abravanel, uma das filhas de Silvio. O atacante do São Paulo não enfrentou o Grêmio no dia anterior, por estar se recuperando de uma lesão.

Assim que terminou a partida no Maracanã, Bolsonaro seguiu para o Aeroporto de Congonhas, de onde partiu de volta para Brasília.

A proximidade entre Bolsonaro e os evangélicos remonta à campanha presidencial do ano passado, quando esse eleitorado foi decisivo para a sua vitória nas urnas. Nas 32 cidades com maioria da população desse grupo, ele recebeu 74% dos votos.

No Congresso, a afinidade entre o presidente e a bancada evangélica se dá principalmente por temas comportamentais, como o Estatuto da Família. Entretanto, essa relação nem sempre foi harmônica ao longo do primeiro semestre de governo. Um dos pontos de atrito é a defesa de Bolsonaro ao afrouxamento das regras para aquisição de armas.

Desde maio, no entanto, voltou a ocorrer uma aproximação, quando a bancada evangélica obteve de Bolsonaro compromisso com um pacote para flexibilizar as obrigações de igrejas perante o Fisco. Entre as solicitações atendidas estão o fim da obrigação de igrejas menores se inscreverem no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) e a elevação (de R$ 1,2 milhão para R$ 4,8 milhões) do piso de arrecadação para que uma igreja seja obrigada a informar suas movimentações financeiras diárias.