O Globo, n. 31607, 19/02/2020. Economia, p. 27

Bolsonaro: ‘Guedes continua conosco até o final’

Leandro Prazeres
Daniel Gullino


O presidente Jair Bolsonaro saiu ontem publicamente em defesa do ministro da Economia, Paulo Guedes, que comparou servidores públicos a parasitas e disse que o câmbio baixo no passado possibilitava que empregadas domésticas fossem à Disneylândia. Sem mencionar as declarações diretamente, Bolsonaro disse que o ministro deverá ficar na equipe econômica até o fim do seu mandato.

— Se o Paulo Guedes tem alguns problemas pontuais como todos nós temos, é muito mais pela sua competência do que por possíveis deslizes, que eu mesmo já cometi muito no passado — afirmou o presidente, durante a posse do novo ministro da Casa Civil, o general Walter Braga Netto.

’Jovem aluno’

Bolsonaro afirmou ainda que seu governo deve “muito” a Paulo Guedes.

— O Paulo não pediu para sair, mas tenho certeza de que ele vai continuar conosco até o final. Paulo Guedes não é militar, mas ainda é um jovem aluno do Colégio Militar de Belo Horizonte. Muito obrigado por estar entre nós — disse Bolsonaro.

Sentado entre os ministros convidados para a posse, Guedes sorriu ao ouvir a fala do presidente. Nas duas últimas semanas, o ministro da Economia envolveu-se em duas declarações polêmicas. Na semana passada, em discurso em Brasília, ele disse que o câmbio a R$ 1,80 era “uma festa danada” e permitia que empregadas domésticas fossem à Disney.

— O câmbio não está nervoso, (o câmbio) mudou. Não tem negócio de câmbio a R$ 1,80. Todo mundo indo para a Disneylândia, empregada doméstica indo para a Disneylândia, uma festa danada — afirmou Guedes.

Antes disso, no início do mês, Guedes comparou servidores públicos a parasitas. A declaração foi feita durante uma palestra no Rio de Janeiro, em que o ministro defendeu a reforma administrativa, uma das principais bandeiras do governo.

Guedes também se envolveu em uma queda de braço com ministros que estão na “cozinha” do Palácio do Planalto, em torno do envio da reforma administrativa ao Congresso. O chefe da Economia tem pressa em enviar o projeto ao Parlamento, pois 2020 é ano eleitoral, e deputados e senadores dedicarão grande parte da agenda do segundo semestre à disputa. Guedes tem receio de que o debate seja prejudicado.

Temendo prejuízos políticos com o envio da proposta elaborada pelo time de Paulo Guedes, a área política do Planalto argumentou, na semana passada, que o texto não estaria redondo, o que foi acatado por Bolsonaro.