O Globo, n. 31564, 07/01/2020. Mundo, p. 22

Países amigos condenam manobra de Maduro



Após a polêmica eleição do novo presidente da Assembleia Nacional( AN) venezuelana, nomeado apenas coma presença da bancada minoritária oficialista do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), os governos de Uruguai, México e Argentina — países que reconhecem a Presidência de Nicolás Maduro— criticaram o processo que no domingo impediu a reeleição de Juan Guaidó para o comando do Legislativo.

O governo Maduro usou as principais forças de segurança para impedir a entrada de deputados opositores na sede da AN. Seus aliados, em seguida, renovaram as autoridades parlamentares, no que foi considerado uma “cerimônia ilegal” e um “golpe” por seus adversários. O presidente eleito do Legislativo foi Luis Parra — expulso do partido opositor Primeiro Justiça no fim do ano sob acusação de corrupção — que se aliou às forças governistas.

‘Isolamento internacional’

Em comunicados, os três países, que não reconhecem Guaidó como “presidente interino” do país, rejeitaram a tentativa do governo de impedira votação.

“O México faz votos para que a Assembleia Nacional da Venezuela eleja democraticamente seu Conselho Administrativo, de acordo com o processo estabelecido na Constituição daquele país irmão. O funcionamento legítimo do Poder Legislativo é um pilar inviolável das democracias”, disse a chancelaria mexicana no Twitter.

Já o novo ministro das Relações Exteriores da Argentina, Felipe Solá, lembrou que o governo recém-eleito de Alberto Fernández “tem tentado por todos os meios que o diálogo e os acordos sejam o caminho para a plena recuperação do funcionamento democrático da República Bolivariana da Venezuela”.

— Impedir pela força o funcionamento da Assembleia Legislativa é condenar-se ao isolamento internacional. Rejeitamos essa ação e instamos o Executivo venezuelano a aceitar que o caminho é exatamente o oposto. A Assembleia deve eleger seu presidente com total legitimidade —afirmou.

O governo uruguaio da Frente Ampla, de esquerda, também manifestou sua “profunda preocupação” pela violação dos direitos dos deputados e criticou a atitude do governo de Maduro, que “viola” os esforços internacionais para uma saída para a crise venezuelana.

“A atitude do governo venezuelano prejudica seriamente os esforços da comunidade internacional para colaborar com os venezuelanos, através do diálogo e da negociação, para conseguir uma saída da grave crise institucional naquele país”, afirmou o governo de Tabaré Vázquez, em comunicado.

Pelo Twitter, o presidente eleito do Uruguai, Luis Lacalle Pou, que toma posse em março, disse que os acontecimentos na Assembleia foram “um golpe na institucionalidade democrática”.

‘Um deputado a mais’

No domingo, Guaidó, que há um ano se proclamou “presidente encarregado” e foi reconhecido por cerca de 60 países, entre eles Brasil e EUA, teve que pular uma grade para entrar na sede do Legislativo. Horas depois, ele comandou uma sessão parlamentar paralela na redação do jornal El Nacional, em Caracas, onde afirmou ter reuni domais de cem deputados, e foi reeleito presidente do Legislativo.

Ontem, o líder opositor destacou aposição da Argentina e do México, que“apesar das diferenças ideológicas”, criticaram a “violação contra o Parlamento”. Sua reeleição foi reconhecida pelo Grupo de Lima, que reúne 12 países, sema assinatura de México e Argentina.

Guaidó denuncia que Maduro subornou parlamentares para votarem contra ele e chamou Parra de “cúmplice” do chavismo. Já Parra acusa Guaidó de ter “sequestrado o Parlamento” e usado a entidade para derrubar Maduro. Ele convocou para hoje a primeira sessão da nova AN, e disse que Guaidó poderá estar presente como um“deputado a mais ”.