O Globo, n. 31564, 07/01/2020. Economia, p. 16

Investidores minimizam breve alta do petróleo



A valorização do petróleo registrada ontem, quando o barril chegou a superar os US$ 70, não se sustentou ao longo do dia. Segundo analistas, os investidores perceberam que o fornecimento não foi abalado pela escalada da tensão no Oriente Médio depois do assassinato, pelos Estados Unidos, do general iraniano Qassem Soleimani.

Passados três dias do atentado, o petróleo continua a ser transportado pelo Estreito de Ormuz —que o Irã ameaçou fechar várias vezes.

— A corrida de preços está perdendo força porque, atualmente, não há barris fora do mercado — disse Rebecca Babin, operadora sênior da corretora CIBC Private Wealth Management.

Em uma nota a clientes, o banco Goldman Sachs afirmou que os preços podem até recuar nas próximas semanas se não houver uma interrupção no fluxo das exportações da commodity.

Ainda assim, permanecem os temores de que um conflito na região, que responde por cerca de um terço do petróleo mundial, possa afetar o fornecimento do produto. Em dezembro, Arábia Saudita, Irã e Iraque produziram, somados, mais de 16 milhões de barris.

Risco embutido no preço

Os preços não se aproximavam dos US$ 70 desde o atentado a uma refinaria da Arábia Saudita — atribuída pelos EUA ao Irã —em setembro do ano passado, quando a produção global recuou cerca de 5%. Enquanto isso, o presidente Donald Trump reforçou as ameaças de retaliação caso o Irã faça “qualquer coisa” e prometeu sanções pesadas contra o Iraque se as tropas americanas forem forçadas a deixar o país, que é o segundo maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

As tensões políticas estão inflando um mercado que já havia sido afetado pelos cortes na produção por parte da Opep e seus aliados. No quarto trimestre, os contratos futuros do barril do petróleo tipo Brent mais que dobraram frente aos sete meses anteriores.

Os EUA já alertaram para o risco de ataques à Arábia Saudita, especialmente perto da fronteira com o Iêmen e em instalações petrolíferas. Trump também está deslocando mais tropas para o Oriente Médio. Há outros sinais de que os investidores se preparam para novas turbulências no mercado petrolífero.

A volatilidade atingiu seu maior nível em um mês, e o custo de instrumentos derivativos para proteger contra salto nos preços aumentou. Foram negociados, para março e setembro, quatro milhões de barris em contratos de opções, que darão lucro se o barril do Brent atingir US$ 95.

— O mercado petrolífero sempre parte do pressuposto de que o pior vai acontecer, então boa parte do risco já está embutido no preço — explicou Jaafar Altaie, diretor gerente da consultoria Manaar Group.

— A cotação do barril a US 70 já considera o pior cenário, e ela deve permanecer nesse patamar.