O Globo, n. 31564, 07/01/2020. País, p. 8

Podemos confirma expulsão de Marco Feliciano

Gustavo Maia


A Executiva Nacional do Podemos decidiu ontem, por unanimidade, ratificar decisão do diretório estadual de São Paulo e expulsar o deputado federal Marco Feliciano do partido. A reunião que confirmou a desfiliação do parlamentar, sinalizada inicialmente no mês passado, ocorreu na capital paulista.

Segundo a assessoria da legenda, a punição foi justificada pela “incompatibilidade política”, já que Feliciano manifestou “apoio irrestrito” ao presidente Jair Bolsonaro, enquanto o Podemos adota postura independente ao Planalto. Ele é vice-líder do governo no Congresso.

Anteriormente, em dezembro, a direção da sigla já havia informado sobre a decisão do diretório de São Paulo, com a ressalva de que a competência de decisão era, na realidade, da executiva nacional.

Segundo o colunista Lauro Jardim, Feliciano torce pelo sucesso do “Aliança pelo Brasil”, partido que Bolsonaro tenta criar e no qual o deputado pretende ingressar. Com a expulsão, não há perda do mandato e o parlamentar poderá migrar para outra sigla.

Dirigentes do Podemos entenderam que Feliciano se ofereceu publicamente para ser vice do atual presidente da República, em uma possível chapa das eleições presidenciais em 2022. Em uma declaração sobre o tema, o pastor declarou que Bolsonaro “terá um vice evangélico”.

As falas incomodaram Alvaro Dias (Podemos-PR), principal nome da legenda para a disputa ao Planalto, e também o presidente do diretório paulista, Mario Covas Neto.

Aproximação constante

Também não foi bem recebida no partido a repercussão de uma reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo” sobre o uso de dinheiro público, proveniente da cota parlamentar, por Feliciano: ele teve R$ 157 mil reembolsados pela Câmara dos Deputados após ter se submetido a um tratamento odontológico para corrigir um problema na articulação da mandíbula (o chamado “bruxismo”). O caso ocorreu em abril do ano passado.

Depois que Bolsonaro chegou ao Palácio do Planalto, Feliciano se aproximou do presidente para fazer a interlocução do governo com a bancada evangélica na Câmara.

No início do ano passado, o deputado se empenhou para ser indicado ao comando de um ministério na Esplanada, em Brasília. Agora, sonha compor a chapa de Bolsonaro. Na tentativa de se aproximar do núcleo duro do governo, investiu em abrir um canal de diálogo com Olavo de Carvalho, ideólogo cuja produção guia as ações do bolsonarismo.

Feliciano divulgou nota afirmando que sua desfiliação do Podemos ocorreu após ter feito campanha para Bolsonaro nas eleições em 2018. “Qualquer outro motivo é fake news. Basta ler o ato de expulsão”, diz o deputado.

“A Executiva Nacional do Podemos me procurou e externaram que não queriam minha saída. Inclusive o presidente estadual do Podemos, vereador Covas Neto, foi repreendido pela Executiva Nacional e pediu afastamento da presidência. Em resposta, disse que não havia mais clima para minha presença no partido, sendo todo dia atacado ora por Alvaro Dias, ora por Covas Neto”, acrescentou Feliciano.

Para o deputado, Dias e Covas Neto “só pensam em seus projetos pessoais e eleitoreiros”. Ele disse ainda que o primeiro transformou o Podemos de São Paulo em “um puxadinho do PSDB à serviço da candidatura do sobrinho” (em referência ao tucano Bruno Covas, prefeito da capital paulista) eque o segundo “apos tano quanto pior melhor” e “só pensa em ser presidente da República”.

Feliciano firmando que “é motivo de orgulho ser expulso do Podemos por defender o presidente Bolsonaro, que está mudando o Brasil para melhor”.