Correio Braziliense, n. 21413, 01/11/2021. Política, p. 4

Riscos e vantagens de Bolsonaro no PP



O analista político do portal Inteligência Política, Melillo Dinis, ressalta que Bolsonaro é presidente da República com mais tempo sem uma agremiação política. “O principal ganho do Centrão é de tentar aumentar a bancada de deputados federais, chave para a definição dos fundos partidário e eleitoral. Bolsonaro aumenta a tração dos candidatos do PP, melhora a competitividade e ainda traz seus adeptos para aumentar a grade de opções do partido nos Estados. A maior desvantagem que Bolsonaro traz é o seu modelo de presença no partido político, com a tentativa de controle total da máquina e da burocracia. Além disso, a sua presença atrapalha alguns cenários regionais, como a Bahia e o Piauí”.

Alessandro Costa, mestre em Ciência Política, especialista em Direito Eleitoral e professor de pós-graduação do Ibmec ressalta que o PP é uma importante peça do jogo político desenvolvido no parlamento, pois o Centrão representa a maioria dos parlamentares dentro das casas legislativas. “Desde a redemocratização, o PP nunca teve um candidato à Presidência da República para chamar de seu e por conta de não contar com nomes com chances reais de vitória, sempre preferiu se aliar a candidaturas de outros partidos. Ombrear com o presidente é algo que amplia ainda mais o espaço do partido na representação institucional e gera também dividendos políticos nas urnas”.

O namoro entre o PP e Bolsonaro iniciado com o apoio deste à candidatura vitoriosa de Lira à presidência da Câmara, passando pela nomeação de Ricardo Barros a líder do governo na Casa, tende a dar um passo “mais sério”, culminando no “casamento” de ambos com o fim de enfrentarem juntos o processo eleitoral de 2022, analisa Alessandro Costa.

“Ao que parece, a elegibilidade de Lula e o resultado das últimas pesquisas, que o colocam em primeiro lugar na preferência dos eleitores, bem como a queda dos índices de popularidade do presidente, fizeram com que as conversas entre Bolsonaro e o PP sobre uma eventual aliança também na disputa da presidência em 2022, que até então eram acenos, se transformassem em relação mais que estável”, avalia Costa.

Com a eventual filiação de Bolsonaro, além de controlar a Casa Civil, a presidência da Câmara e a liderança do governo na Câmara, o partido terá controle sobre a campanha presidencial e se beneficiará também com as verbas partidárias.

Porém, destaca,  essa caminhada conjunta, no entanto, depende de alguns fatores, entre eles o não agravamento dos quadros de impopularidade do presidente frente a avaliação de sua gestão até aqui. “A grave crise econômica, as milhares de mortes causadas pela suposta inação do Presidente podem fazer com que esses planos sejam abandonados. Afinal, o PP carrega o DNA do Centrão, onde a máxima “que seja eterno enquanto dure” é levada bastante a sério. Não esqueçamos que o PP já foi base de apoio de FHC, de Lula e de Dilma no passado”, lembra.

Danilo Morais dos Santos, professor da pós-graduação do Ibmec-DF, observa que a aproximação com Bolsonaro atende ao interesse do PP em aumentar o controle sobre o Orçamento. “O Progressistas tem cada vez mais tentáculos sobre o governo, já exerce certa tutela sobre a Esplanada e chega a militar discretamente, nos bastidores, em prol da substituição de Paulo Guedes, em nome de uma virada de chave eleitoreira em sua fracassada agenda de austeridade”, acredita.

Contudo, ele diz, não é razoável supor que Lira e os caciques da legenda se converterão em neobolsonaristas. “Serão sempre governistas, seja qual for o líder de plantão”, observa. (IS)