O Globo, n. 31439, 04/09/2019. País, p. 8

Bolsonaro: no ‘xadrez do governo’, PGR é a dama
Daniel Gullino


Em meio à disputa pelo comando da Procuradoria Geral da República (PGR), o presidente Jair Bolsonaro comparou ontem o governo a um jogo de xadrez e enfatizou que a dama ou rainha, na partida, corresponde ao órgão. Ainda segundo o presidente, os peões são a maioria dos ministros, com exceção de Sergio Moro, da Justiça, e Paulo Guedes, da Economia, que foram comparados, respectivamente, à torre e ao cavalo no jogo.

Apesar de Bolsonaro tratar a PGR como parte do governo, o Ministério Público Federal (MPF) tem independência. Com mandato de dois anos, o procurador geral é escolhido pelo presidente e sua indicação precisa ser aprovada pelo Senado. O prazo do mandato da atual procuradora-geral, Raquel Dodge, termina no dia 17 deste mês.

— Pessoal, vamos imaginar um jogo de xadrez no governo, vamos imaginar? Os peões seriam, em grande parte, quem? Os ministros. Lá para trás, um pouquinho, o Moro, da Justiça, é uma torre. Paulo Guedes, um cavalo. E a dama, seria quem? — perguntou a jornalistas e apoiadores, ao deixar o Palácio da Alvorada.

Em seguida, Bolsonaro respondeu:

— A dama é a PGR. Tá legal? A peça é a mais poderosa do xadrez, por poder se movimentar para todos os lados. O rei, por outro lado, é a mais importante, porque perdê-lo significa ser derrotado no jogo.

Sem definição

A duas semanas do fim do mandato de Dodge, porém, Bolsonaro ainda não apontou um nome para comandar o MPF nos próximos anos e já disse que não tem data para fazer a escolha. A Constituição não estabelece um prazo para a indicação. Na semana passada, o presidente afirmou que está em dúvida entre três nomes. À “Folha de S.Paulo”, disse que será um homem, o que exclui Dodge.

Por outro lado, Bolsonaro também já sinalizou que pode manter o atual subprocurador-geral Alcides Martins como interino no cargo. Martins é vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público. Em caso de vacância, o subprocurador assume o cargo automaticamente. A partir daí, Martins poderia ser formalmente indicado para permanecer no cargo, a depender do seu desempenho.

A disputa pelo comando da PGR tem sido marcada pela recorrente fritura dos procuradores mais cotados para a vaga. Nos últimos meses, candidatos “favoritos” ao cargo foram chamuscados por ataques de adversários antes mesmo de receberem um aceno público do presidente. Já foram cogitados para a vaga os procuradores Augusto Aras, Paulo Gonet, Bonifácio de Andrada e Antonio Carlos Simões Martins Soares. Todos, no entanto, perderam o apoio do presidente.