Correio Braziliense, n. 21413, 01/11/2021. Política, p. 4

Centrão avança no domínio da pauta econômica

Ingrid Soares


Com o país em crise econômica e o ministro Paulo Guedes enfraquecido, os partidos do Centrão atuam para aprovar projetos que, a um só tempo, os beneficiem politicamente e ajudem o presidente Jair Bolsonaro a sair do atoleiro. A leitura é de que o Posto Ipiranga não tem conseguido emplacar grandes feitos sem a ajuda do Congresso ou ainda fazer andar as reformas. Como parte do plano para tirar do papel programas sociais como o Auxílio Brasil, projetos como a reforma do Imposto de Renda e a PEC dos Precatórios são os mais urgentes para o bloco.

A situação de Guedes ficou mais difícil a partir do momento que o Centrão passou a comandar os ministérios da Casa Civil e da Secretaria de Governo, com Ciro Nogueira (PP) e Flávia Arruda (PL). Com esse movimento, o bloco partidário assumiu as articulações com o Congresso, incluindo o controle da destinação das verbas bilionárias de emendas parlamentares.

A partir daí, os embates entre a ala política e a equipe econômica aumentaram. Há pouco, mesmo tendo conseguido sobreviver às investidas do Centrão e reclamando de "pescarias" da ala à procura de um substituto para seu cargo, Guedes teve que ceder sobre a flexibilização do teto de gastos. Em contramão, causou mais uma instabilidade no mercado e assistiu a mais uma debandada de sua equipe.

Aproximação

A aliança de Bolsonaro com o Centrão tende a ficar ainda mais forte. O desembarque do presidente no Progressistas é dado como certo por parte de integrantes da sigla. Em contrapartida, o chefe do Executivo quer indicar os candidatos ao Senado em regiões chave onde tem sofrido revés, como por exemplo, no travamento da indicação de André Mendonça para o cargo de ministro na Suprema Corte. A estratégia é necessária para fazer andar pautas de interesse do governo. Para a sigla, a vinda do presidente se torna benéfica por conta do potencial de crescimento da bancada no Congresso, o que aumentaria as verbas do fundo partidário e eleitoral, além de conquistar mais tempo de propaganda eleitoral da TV e rádio no próximo ano.

Se até pouco tempo o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), não se movia para a filiação de Bolsonaro, o cenário mudou. Junto com o senador e ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), Lira trabalha para vencer resistências ao nome de Bolsonaro principalmente na região Norte e Nordeste. O partido também é o mesmo que ofereceu meios para que o governo conseguisse construir uma base de sustentação no Parlamento com o Centrão.

Lira tem se empenhado em acelerar pautas de interesse de seu grupo político e do governo. Para isso, vem designando aliados para cargos estratégicos em comissões e relatorias de projetos que podem destravar algumas das principais pautas como alta do preço dos combustíveis, gás de cozinha e Auxílio Brasil.

O deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara, destaca que a filiação de Bolsonaro viabilizará ao PP ser o maior partido em 2023, melhorando a condição de reeleição do presidente. "Como disse nosso presidente em exercício, 90% do partido já está alinhado e chegaremos a 100%. Todos reconhecem que a volta de Bolsonaro ao PP beneficia o partido como um todo". Barros aponta que "problemas regionais estão sendo ajustados".

"Ambos terão muitas vantagens. É o grande primeiro passo para que a articulação política da reeleição se consolide. O PP é aliado do presidente e estará com ele na reeleição independente da filiação. O Progressistas entre os maiores partidos é o mais à direita. Com Bolsonaro virão os bolsonaristas e o partido, que já era majoritariamente apoiador da pauta da família e dos costumes, se fortalecerá", acredita.

Frase

"O Progressistas entre os maiores partidos é o mais à direita. Com Bolsonaro virão os bolsonaristas, e o partido se fortalecerá"

Ricardo Barros (PP-PR),