O Estado de S. Paulo, n. 46951, 05/05/2022. Economia & Negócios, p. B5

Como ficam os investimentos com nova taxa

Jessica Brasil Skroch


A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de elevar a Selic em 1 ponto porcentual, para 12,75% ao ano, reforçou a atratividade dos investimentos pós-fixados, na renda fixa, e em determinados setores na Bolsa, como as empresas exportadoras.

O cenário de incertezas, com a guerra na Ucrânia, o endurecimento de medidas contra a covid na China e a alta de juros nos EUA dão destaque aos investimentos de renda fixa, especialmente para aqueles investidores que preferem ter menor oscilação do patrimônio. "Os títulos pós-fixados são os mais seguros nesse momento, porque se beneficiam diretamente com a alta da Selic", diz Vinícius Romano, especialista em renda fixa na Suno Research.

Outra vantagem é que o investidor, se precisar, poderá resgatar o dinheiro mais facilmente, destaca Romano. O Tesouro Selic, Tesouro IPCA+ e os CDBS pós-fixados (como CDBS 100% ou mais do CDI) são exemplos de investimentos desse tipo.

Os títulos indexados à inflação são uma segunda boa escolha, na opinião de Romano, porque trazem a proteção do IPCA. "As opções com juro real acima de 5% trazem um bom carrego para a carteira, além de proteger contra a inflação, se for mantido até o vencimento." Alguns títulos de médio prazo conseguem um bom retorno, mas é preciso ter cautela com títulos mais longos nesse momento, diz o especialista.

Na renda fixa, os prefixados são os que oferecem maior risco ao investidor, uma vez que não é possível prever exatamente o ritmo futuro de alta da inflação. Neste sentido, eles podem perder a corrida contra os preços, e terminar com rendimento menor em comparação a outras opções. Porém, Romano destaca que há títulos de curto prazo que estão com taxas atrativas, rendendo em torno de 12% ao ano.

O fundo DI com taxa de 2% ao ano é o investimento de renda fixa que não deve ter ganhos que batam a inflação, nos cálculos de Fábio Gallo, professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP). Ele considerou um aporte de R$ 1 mil a ser sacado daqui a um ano. A poupança, por sua vez, é o segundo pior investimento entre os analisados.

Renda Variável. Embora a alta da taxa básica de juros favoreça o investimento em renda fixa, o investidor pode encontrar oportunidades na Bolsa, uma vez que algumas ações se desvalorizaram recentemente, por causa da expectativa de alta de juros. "A alta de juros prejudica no curto prazo (os investimentos em renda variável, como as ações na Bolsa), mas no longo prazo se espera que o Brasil saia mais amadurecido da crise. Esperamos que a Bolsa seja o principal provedor de performance nos próximos dois anos", diz Pedro Tiezzi, analista de investimentos da SVN.

A alocação de investimentos na Bolsa não deve mirar unicamente a volatilidade no curto prazo. "Temos um ambiente favorável, ainda que volátil, para fundos de Bolsa, fundos de crédito pós-fixados e fundos multimercados", afirma Tiezzi.

Segundo especialistas, o setor com maior atratividade reúne as empresas exportadoras ligadas ao mercado de commodities, apontam Rodrigo Natali, sócio e estrategista-chefe da casa de análise Inv, e Igor Martins, sócio da One Investimentos.

Quando os juros brasileiros estiverem próximos do ponto de inflexão, ou seja, no fim do ciclo de aperto monetário do BC, os setores do varejo e construtoras tendem a começar a se recuperar e viram "os queridinhos do mercado", diz Flávio Aragão, sócio da gestora de patrimônio 051 Capital. 

Aposta

Papéis de empresas exportadoras ligadas ao mercado de commodities são boas opções