O Globo, n. 31496, 31/10/2019. País, p. 6

Garotinho e Rosinha voltam à prisão

Letícia Gasparini
Rafael Nascimento de Souza


O casal de ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho foram presos, no início da manhã de ontem, após a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio derrubar, por dois votos a um, na terça-feira, o habeas corpus concedido pelo desembargador Siro Darlan. Agentes da Polícia Civil entraram no prédio onde o casal mora, no Flamengo, Zona Sul, às 5h51m para cumprir os mandados de prisão preventiva.

Os dois são investigados por superfaturamento em contratos da prefeitura de Campos, no Norte Fluminense, com a construtora Odebrecht para a construção de casas populares.

De acordo com o porteiro do edifício, foi organizado um culto religioso no apartamento dos dois até o início da madrugada. Esta é a quinta vez que Garotinho é preso e a terceira de Rosinha.

Após a prisão, o casal seguiu para a sede da Polícia Interestadual (Polinter) e, depois, para exames no Instituto Médico Legal (IML). Garotinho foi encaminhado para a Cadeira Publica José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte, e Rosinha foi transferida para a cadeia Feminina Nelson Hungria, no Complexo de Gericinó, na Zona Oeste. O ex-governador ficará em Benfica após pedido de sua defesa à Secretaria de Administração Penitenciária (Seap). Garotinho alegou que correria risco de morte caso fosse para Gericinó.

Na Polinter, o ex-governador concedeu entrevista na qual rebateu as acusações e disse que não há provas de coação a testemunhas. Ele destacou que o processo é antigo e que só agora surgiu uma testemunha se dizendo ameaçada.

— Foi oferecido a ela o programa de proteção à testemunha e ela recusou. Agora, ela volta ao Ministério Público e acusa, diz que eu a estaria ameaçando — questionou Garotinho.

Superfaturamento

Em setembro, os ex-governadores foram presos em uma operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Coordenadoria de Segurança e Inteligência, órgãos vinculados ao Ministério Público do estado, mas menos de 24 horas depois a decisão foi revogada pelo desembargador Siro Darlan, plantonista do Tribunal de Justiça do Rio. A liminar foi agora derrubada pelo tribunal.

Garotinho e Rosinha são investigados por superfaturamento em contratos dos programas Morar Feliz I e Morar Feliz II durante os dois mandatos de Rosinha como prefeita de Campos, entre 2009 e 2016. A ação contra o casal é baseada na delação premiada de dois executivos da Odebrecht homologadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Em depoimento, Leandro Andrade Azevedo e Benedicto Barbosa da Silva Junior afirmaram que a construtora foi favorecida em concorrências superfaturadas avaliadas em R$ 1 bilhão para construir 10 mil moradias. O MP estima que superfaturamento nos contratos foi de cerca de R$ 50 milhões. As investigações apontam que a Odebrecht pagou R$ 25 milhões em propinas aos ex-governadores. As obras não chegaram a ser concluídas.