Correio Braziliense, n. 21406, 25/10/2021. Política, p. 2

Bolsonaro sente golpe e faz Guedes pressionar Pacheco

Ingrid Soares


Um dia após o PSD ter “convocado” Rodrigo Pacheco para concorrer à Presidência da República pela sigla, Jair Bolsonaro deu sinais de ter ficado muito incomodado com a manobra política protagonizada pelo Presidente do Senado. Tanto que, ontem, escalou o ministro da Economia, Paulo Guedes, para cobrar do parlamentar mineiro a tramitação de reformas importantes para o governo — como a do Imposto de Renda, já aprovada pela Câmara — que está no Senado. Verbalizando as preocupações do presidente, Guedes foi mais longe: exigiu de Pacheco que não faça “militância” e exortou-o a ajudar o governo na aprovação das reformas.

“Nós esperamos que o Presidente do Senado avance com as reformas. Se ele se lança a presidente da República agora, se ele não avançar com as reformas, como é que ele vai defender a própria candidatura? Ele não pode fazer militância também, e eu tenho certeza de que não vai fazer”, disse, na saída de uma feira de criadores de passarinhos, no Parque de Exposições da Granja do Torto, em Brasília.

Nem Guedes nem Bolsonaro comentaram as alfinetadas dadas por Pacheco no evento do PSD, sábado, no Rio de Janeiro. Ele criticou o Auxílio Brasil e o “auxílio diesel”, anunciados pelo presidente da República, por faltarem aos dois benefícios indicação da fonte de custeio e por romperem o teto de gastos. O Presidente do Senado expôs, ainda, a necessidade da responsabilidade fiscal diante de ofertas temporárias e defendeu programas sociais fixos. Com histórico de conciliador, Pacheco é visto por Bolsonaro como capaz de unir a terceira via e tirá-lo do segundo turno das eleições. Por isso, a ênfase que Guedes deu no discurso em relação ao Presidente do Senado.

Guedes também atacou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu, no início da semana, o valor de R$ 600 para o Auxílio Brasil. “Tem muito populista aí, inclusive candidato à Presidência, falando em R$ 600, R$ 700, R$ 800. Eles quebraram o Brasil e não taxaram os super-ricos. Quebraram o Brasil e não fizeram nada sobre essa roubalheira”, criticou, sem citar o nome do petista.

Decisões difíceis

O ministro reafirmou o estouro do teto como forma de implementar os programas sociais do governo, pois faz parte das “decisões políticas muito difíceis” que Bolsonaro é obrigado a tomar e que, “se ele (o presidente) respeita o teto, deixa 17 milhões de famílias passando fome”. Segundo Guedes, a política “pressiona o presidente”.

Ele aproveitou para rebater as críticas ao presidente de que o Auxílio Brasil é populista e visa à reeleição. “O presidente da República sempre apoiou as reformas. Ele é um político popular, mas ele está deixando a economia ser reformista. Ele não é um populista”, justificou.

A reforma administrativa, salientou o ministro, é uma importante ferramenta para a economia do país e que, portanto, tem que ser aprovada no Congresso. “Ele (Bolsonaro) podia pegar todo esse discurso da fome e dizer: ‘Olha, vou fazer orçamento paralelo, vou fazer um orçamento de guerra’. Igual foi feito ano passado. Ele não é populista, ele não está fazendo isso. Está pedindo o seguinte: como é que a gente resolve? A economia está dizendo para ele: vamos avançando com as reformas. Se fizermos a administrativa, economizamos R$ 300 bilhões. Então, qualquer pessoa vai entender: ‘eles realmente empurraram um pouquinho mais aqui o teto, mas, em compensação, gastaram R$ 30 bilhões e economizaram R$ 300 bilhões. Então, eles estão fazendo o dever de casa”.

Guedes ainda atacou economistas que criticaram o rompimento do teto de gastos, como Henrique Meirelles — secretário de Fazenda do estado de São Paulo —, responsável pela criação da medida durante o governo do presidente Michel Temer. “Meirelles é candidato e está à disposição para qualquer governo. Fez o teto e saiu correndo. Ele trabalha para qualquer partido, a qualquer momento, em qualquer lugar, a qualquer hora. Ele está sempre à disposição”, atacou.

Frase

"Nós esperamos que o Presidente do Senado avance com as reformas. Se ele se lança a presidente da República agora, se ele não avançar com as reformas, como é que ele vai defender a própria candidatura? Ele não pode fazer militância também, e eu tenho certeza de que não vai fazer”

Paulo Guedes, ministro da Economia

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