O Globo, n. 31494, 29/10/2019. País, p. 4

Vendas dobram em loja especializada do Rio

Bernardo Mello


O aumento da emissão de certificados de registro de armas neste ano, segundo dados obtidos pelo Globo, teve reflexos para comerciantes de armamentos no Estado do Rio. A loja Mil Armas, inaugurada há cerca de três anos em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, pelo expolicial federal Marcelo Costa, aponta que a demanda praticamente dobrou a partir de maio, quando o presidente Jair Bolsonaro editou novos decretos ampliando e flexibilizando as regras para posse de armas.

Fernando Henrique Barros, um dos funcionários da Mil Armas, afirma que houve um boom nas vendas a partir de junho —mês em que se inicia um avanço mais acentuado dos registros de armas, de acordo com dados da Polícia Federal. Segundo Fernando, a loja chegou a contratar três novos funcionários por causa do aumento da procura.

— Acho que não é só efeito dos decretos, mas também do aumento da mídia em relação ao comércio de armas. As pessoas passaram a entender melhor como podem ter acesso —avaliou Fernando.

Segurança pessoal

Luciano Lucas, empresário do ramo da construção civil e morador da Baixada, comprou sua segunda arma no início deste ano. O motivo, segundo ele, foi incrementar sua segurança pessoal, diante dos índices de criminalidade na região.

O empresário diz que foi importante ter “desmistificado” o processo de adquirir um armamento. A documentação exigida pela PF para os interessados em registrar uma arma inclui teste psicológico, certificado de treinamento em estandes credenciados e ausência de antecedentes criminais. Há lojas de armas que orientam clientes e oferecem parte dos serviços necessários.

— Não chegou a levar 30 dias entre dar entrada no processo e comprar a arma. Percebi que o processo não era tão burocrático, o próprio pessoal da loja me ajudou. Isso quebrou o tabu para mim. Conversei sobre isso com alguns colegas, que se sentiram confortáveis para fazer o mesmo —disse Luciano.

O Certificado de Registro de Arma de Fogo (Craf), emitido pela PF, autoriza a compra e a posse na residência ou no local de trabalho. O certificado não permite o transporte da arma de fogo.

Em janeiro, no seu primeiro decreto ligado ao tema, Bolsonaro ampliou os critérios necessários para solicitar a posse de armas, que passaram a abranger moradores de estados com taxa de homicídios igual ou superior a 10 a cada 100 mil habitantes. Em maio, no que foi considerado um decreto mais amplo, Bolsonaro aumentou o número e o rol de armas que poderiam ser adquiridas.

Fernando afirma que a loja está finalizando os trâmites para colocar seu estande de tiro em funcionamento:

— Acredito que as mudanças foram positivas não só para nós, mas para o Brasil. Quanto mais nós vendemos, mais empregos são gerados.