O Globo, n.31.579, 22/01/2020. Sociedade. p.29

Site do Sisu apresenta problemas no primeiro dia
Bruno Alfano 
Paula Ferreira 
Rodrigo Souza 


 

Apesar de o ministro Abraham Weintraub (Educação) publicar, às 8h21m, que o Sisu — aberto à meia -noite de ontem — estava “rodando normalmente”, alunos de todo o país tiveram problemas para fazer as inscrições no site em que us amas notas do Ensino Nacional do Ensino Médio (E nem) para concorrera vaga sem universidades públicas. A reclamação e rad eque o portal dava as inscrições como encerradas.

O estudante Henrique José, 22 anos, pela terceira vez usando o Sisu, diz que o processo de inscrição no sistema sempre foi atribulado, mas antes não havia tanta “enrolação”.

— Estou tentando entrar desde as 9h da manhã, mas o site “buga” na parte de selecionar o curso. Acho que depois fecharam de vez, porque não carregava mais nada — disse o morador de São Gonçalo, que quer cursar Letras Inglês na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Desde 2010, o site do Sisu apresenta problemas de acessos simultâneos no primeiro dia de inscrições. No entanto, nunca foi exibida a mensagem que dava as inscrições como encerradas.

No fim do dia, Weintraub voltou às redes em novo vídeo no qual afirmou que usuários “experimentaram lentidão” no site por conta do excesso de acessos ao mesmo tempo.

— Houve uma demanda muito acima do que era previsto e do que era no passado. Já trabalhávamos com um incremento de demanda, mas não tão grande. Com isso, tivemos que fazer algumas adaptações —afirmou.

Ainda de acordo com o ministro, houve, até as 19h de ontem, 827 mil inscrições de 474 mil estudantes. Cada candidato pode fazer até duas inscrições:uma em cada universidade ou curso que tem interesse.

— Fiquem tranquilos. O sistema está funcionando. E tem até domingo (para tentar uma vaga). Todo mundo vai poder se inscrever. Ninguém vai ser deixado para trás — afirmou Weintraub no vídeo.

OSis ué a principal for made acesso ao ensino superior público com uso da nota do Enem. Para concorrer, é preciso não ter zerado a redação na edição de 2019 do exame. Neste semestre, são 237.128 vagas em 128 instituições de ensino superior públicas de todo o país. O procedimento de inscrição é gratuito e deve ser feito no site do programa.

ENEM EM DISPUTA

Enquanto isso, o governo ainda precisa lidar com os problemas causados pelo erro do cálculo da nota de quase seis mil candidatos do Enem. A União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e a Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG) protocolaram ontem no Ministério Público Federal (MPF) um pedido para a realização de uma auditoria nas notas do Enem. O objetivo é “apurar se as notas atribuídas aos alunos que prestaram a provado E nem estão condizentescomo desempenho deles na prova ”, diz o texto.

O ofício também pede para que as condutas de Weintraub e do presidente do Inep, Alexandre Lopes, sejam investigadas, “no que se refere a improbidades administrativas”.

—Estamos acompanhando com atenção a confusão e a balbúrdia que o MEC causou nas provas do Enem — afirmou Iago Montalvão, presidente da UNE, em vídeo publicado nas redes sociais: — Além disso, também entramos com um pedido de ação civil pública por danos morais a todos os estudantes que foram constrangidos e prejudicados por todos esses erros.

Já a Comissão Externa de Acompanhamento do Ministério da Educação (Comex/ MEC) na Câmara divulgou uma nota atribuindo as falhas no Enem à “atabalhoada contratação da gráfica” Valid S.A. A Comex afirma ainda que a gestão “precária” de pessoas e a paralisação no desenvolvimento e manutenção dos softwares seriam alguns dos motivos que explicam o erro na nota dos participantes. A comissão pede que os culpados sejam responsabilizados e que o MEC inclua no próximo edital do exame uma previsão para a revisão de notas.

A comissão diz que o erro é fruto da “precarização da gestão do MEC”, afetou a credibilidade da prova e transferiu o ônus do erro totalmente ao participante que teve suas notas divulgadas erradamente. Ainda segundo o texto, a Comex identificou que, na gestão Bolson aro, o In ep tem servidores em cargos estratégicos como menor nível de escolaridades e comparado às duas gestões anteriores.

ERRO MECÂNICO

O Inep informou que recebeu 172 mil e-mails relatando erros, e todas as 3,9 milhões de provas da última edição do Enem foram conferidas. O órgão vai abrir um processo administrativo contra a Val id, responsável por realizar oE nem—agráfica não quis se pronunciar.

Segundo o presidente do Inep, duas máquinas diferentes imprimem o caderno de questões e o cartão-resposta, depois uma terceira une os dois papéis, identificados com código de barras e o código do participante. Um problema no equipamento teria “descasado” prova e cartão, fazendo com que um caderno amarelo, por exemplo, fosse vinculado a um cartão-resposta de outra cor. O órgão diz estudara implementação de “testes de consistência” para incorporar ao processo de correção nos próximos anos.