O Globo, n.31.579, 22/01/2020. Economia. p.24

BNDES inicia venda de ações da Petrobras e pode levantar R$ 23 bi

 

O BNDES deu ontem o primeiro passo para a venda de ações da Petrobras. A medida era esperada desde o ano passado, quando o banco anunciou os planos para se desfazer de sua carteira bilionária de participações em empresas. Em documento enviado à Securities and Exchange Commission (SEC, o órgão regulador do mercado americano), a Petrobras informa que o BNDES iniciou a oferta de 611,8 milhões de ações ordinárias (com direito a voto). O banco tem no total 734,2 milhões de papéis ordinários, o equivalente a 10% do total, e é o segundo maior acionista da Petrobras, atrás apenas do governo federal. Caso a oferta seja ampliada e ele consiga se desfazer de todos os papéis, poderia levantar cerca de R$ 23 bilhões, considerando o valor do fechamento das ações ontem. A venda de ações da Petrobras é parte da estratégia do governo de Jair Bolsonaro para reduzir o papel da União na economia.

Considerando a participação total (papéis com e sem direito a voto), o BNDES detém 13,09% do capital da Petrobras. A venda de ações já era prevista, mas o banco de fomento esperou a abertura de capital da Saudi Aramco, que ocorreu em dezembro, o maior lançamento de ações da história.

A operação abrange uma oferta internacional e uma no mercado local. Com o volume de ações à venda, trata-se da maior operação desde a capitalização da Petrobras, em 2010, quando a empresa vendeu R$ 120 bilhões de suas próprias ações. A operação foi realizada para custear a cessão onerosa (processo pelo qual a União cedeu à Petrobras o direito de explorar 5 bilhões de barris no pré-sal).

Os coordenadores globais da operação são o Credit Suisse e o Bank of America. Segundo a Bloomberg, o Credit Suisse venceu uma batalha de duas fases entre bancos de investimento e aceitou dividir com sete instituições 0,2% do valor da oferta. As outras empresas envolvidas na operação são

Morgan Stanley, Goldman Sachs Group, XP Investimentos, Banco Bradesco BBI, Banco do Brasil e Citigroup Inc.

A carteira de ações da BNDESPar soma R$ 114,4 bilhões. No ano passado, o banco já tinha anunciado a intenção de vender sua participação na JBS por meio de oferta pública. O banco detém 21,32% do capital da companhia.

 

OAB questiona banco sobre auditoria para investigar caixa-preta
Ramona  Ordoñez

 

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediu esclarecimentos ao BNDES sobre a contratação de um escritório internacional de origem americana para uma auditoria externa independente de operações do banco com empresas do grupo J&F, controladora da JBS. A informação foi antecipada pelo colunista do GLOBO Ancelmo Gois.

A investigação administrativa custou R$ 48 milhões e não encontrou evidências de corrupção no banco. A OAB informou que o objetivo da notificação é verificar se o BNDES cumpriu “as normas leigais que disciplinam o exercício da atividade de consultores e sociedades em direito estrangeiros no país” ao contratar o escritório Cleary Gottlieb Hamilton & Steen LLP.

O BNDES informou ontem que os R$ 48 milhões gastos na auditoria, iniciada em 2018, não foram pagos unicamente ao escritório estrangeiro. De acordo com o banco, o valor engloba o pagamento de todos os envolvidos no trabalho, que envolveu o levantamento de três milhões de dados eletrônicos e a revisão de mais de 400 mil documentos. Na equipe também havia profissionais do escritório brasileiro Levy Salomão Advogados.

Os dois escritórios conduziram as investigações em relação a oito operações do BNDES envolvendo as empresas JBS, Bertin e Eldorado Celulose, ligadas à J&F, entre 2005 e 2018. O banco informou que o valor pago pelos serviços já havia sido divulgado “de maneira transparente” pelo BNDES em esclarecimentos apresentados ao Congresso Nacional, no dia 27 de agosto de 2019.

O BNDES afirmou ainda que “seguiu todos os procedimentos legais e normativos exigidos para esse tipo de contratação”.

Segundo o banco, foi entregue ao Ministério Público Federal um relatório completo das investigações, sendo que um “resumo” de oito páginas está disponível no site da instituição desde dezembro de 2019 como parte de seu esforço para aumentar sua transparência. Desde o ano passado, o presidente Jair Bolsonaro vem pressionando o banco a abrir o que chama de “caixa-preta”.