O Globo, n. 31498, 02/11/2019. País, p. 6

Adélio Bispo recusa oferta de acordo de delação premiada


Autor da facada contra Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais do ano passado, Adélio Bispo não aceitou fechar um acordo de delação premiada oferecido pela Polícia Federal. Adélio recusou a oferta dizendo que não tem mais o que acrescentar ao caso do que já disse à Justiça. O agressor reafirmou no depoimento que agiu sozinho e não seguiu ordem de ninguém. A recusa ao acordo ocorreu durante um depoimento dado ao delegado da PF Rodrigo Moraes Fernandes, da Superintendência de Belo Horizonte, e foi divulgada pelo colunista da Época Guilherme Amado e pelo jornal “Folha de S. Paulo”. O novo depoimento de Adélio foi colhido na Penitenciária Federal de Segurança Máxima de Campo Grande, onde o agressor está preso. Segundo o advogado de Adécio Marco Mejìa, o depoimento não teve valor jurídico, mas foi tomado com o objetivo de esclarecer dúvidas que a PF ainda tem no caso. Um dos questionamentos da polícia foi sobre uma denúncia enviada por um preso que disse que Bispo teria esfaqueado o então candidato atendendo a uma ordem vinda de dentro de um presídio. O detento que enviou a denúncia buscava abatimento de pena. — Adélio explicou que agiu sozinho e não seguiu nenhuma ordem. O depoimento foi bom para mostrar que nem os advogados nem ele somos contrários a ele fornecer qualquer informação — afirmou Mejìa à coluna de Guilherme Amado.

Carta ao presidente

O preso que passou a informação de que Adélio teria cometido o atentado a mando de terceiros é o iriano Farhad Marvizi, que enviou uma carta ao presidente contanto que tinha dados que poderiam esclarecer o episódio. Durante um período em que estiveram juntos na ala médica da penitenciária, o iraniano disse que Adélio confessou a ele que teria recebido a promessa de ganhar R$ 500 mil para matar Bolsonaro. O agressor, porém, não teria dado detalhes sobre a pessoa que o pagaria pelo ataque. O deputado Eduardo Bolsonaro, compartilhou a notícia da suposta proposta nas redes sociais. Marvizi deu a declaração em depoimento à PF, mas disse que só contaria o que sabe em troca do perdão judicial do presidente. Os investigadores, no entanto, consideraram o iraniano como uma fonte de baixa credibilidade, por ter costume de contar histórias mirabolantes, e, por isso, descartou a possibilidade de fazer qualquer acordo. Segundo o advogado de Adélio, o autor da facada no presidente aparentou uma melhora de seu quadro psiquiátrico e teria saído da fase de surtos delirantes. — Ele expressou que deseja trabalhar e disse estar melhorando — disse Mejia. Adélio pediu para ser transferido a um presídio em Montes Claros (MG), mas o advogado o aconselhou a permanecer em Campo Grande, onde tem tratamento psiquiátrico adequado e sua segurança está preservada.