O Globo, n.31.588, 31/01/2020. País. p.4

Onyx no alvo
Naira Trindade

 

Depois de demitir duas vezes o ex-secretário-executivo José Vicente Santini em menos de 48 horas e esvaziar os poderes da Casa Civil, o presidente Jair Bolsonaro deve se reunir hoje com o ministro Onyx Lorenzoni para decidir o futuro da pasta. Onyx antecipou seu retorno à Brasília em meio à crise iniciada após Santini, seu principal auxiliar, usar uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) para fazer uma viagem exclusiva à Suíça e à Índia no último fim de semana.

Na Casa Civil, o clima é de incerteza e apreensão. A pasta perdeu seu principal trunfo: o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), transferido ontem por Bolsonaro para o Ministério da Economia. Assessores ligados ao ministro Onyx tentam decifrar os próximos movimentos do presidente, que se demonstrou extremamente irritado com os últimos atos da pasta. Dentre as hipóteses cogitadas internamente está a de transferir Onyx para o Ministério da Educação, no lugar de Abraham Weintraub, indicado para o posto pelo próprio Onyx.

Principal apoiador de Bolsonaro durante a campanha presidencial, o ministro da Casa Civil perdeu o direito de escolher seus assessores e as principais atribuições que lhe foram dadas. Em meio ao vácuo no comando da pasta, Bolsonaro cogitou nomear o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, para comandar interinamente a

Casa Civil até o retorno de Onyx das férias. A decisão só foi revisada após o ministro garantir que anteciparia sua volta ao trabalho. Bolsonaro então escalou Antônio José Barreto de Araújo Júnior para assumir o cargo de secretário-executivo interino da Casa Civil apenas até hoje. Barreto é o atual sub-chefe de Articulação e Monitoramento da Casa Civil e acumula as funções.

Em uma edição extra do Diário Oficial da União, ontem, o presidente tornou sem efeito a nomeação de Santini, ocorrida na noite anterior, para o cargo de assessor especial da Secretaria de Relacionamento Externo da Casa Civil. O presidente também exonerou quem assinou a nova nomeação de Santini, Fernando Wandscheer de Moura, que ocupava interinamente o cargo de secretário-executivo da Casa Civil. Ele voltará ao posto de secretário-adjunto.

A novela envolvendo as nomeações do número dois da Casa Civil e seu assessor começou logo cedo. Doze horas após sair a publicação no Diário Oficial, Bolsonaro mediu pelas redes sociais o desgaste provocado pelo ato. Em conversa pelo telefone logo de manhã, Bolsonaro decidiu indicar o ministro Ramos para resolver o impasse da Casa Civil enquanto Onyx não retornava. Ele assumiria as funções interinamente até que o atual titular da pasta chegasse para buscar novos funcionários para o ministério.

IDAS E VOLTAS

A Casa Civil viveu um vácuo de comando nos últimos dias. Na terça-feira, Bolsonaro anunciou que iria demitir o então secretário-executivo, Vicente Santini, após ele utilizar o avião da Força Aérea Brasileira (FAB), primeiro para ir à Suíça e depois à Índia. Santini comandava interinamente o ministério durante as férias do ministro. Na quarta-feira, pela manhã, foi publicada a exoneração de Santini e a promoção de Fernando Moura para secretário-executivo.

Como as férias de Onyx continuavam, Moura passou a atuar como ministro interino. Nessa condição, assinou a nomeação de Santini como assessor especial de relacionamento externo, publicada na noite de quarta. A Casa Civil chegou a informar à imprensa que a nova nomeação de Santini se deu após uma conversa dele com o presidente Bolsonaro, que teria concordado que ele continuasse no governo. Ontem, também foi exonerado o assessor de imprensa da Casa Civil que divulgou a primeira informação.

Ao deixar o Palácio da Alvorada mais cedo, Bolsonaro não quis responder perguntas de jornalistas sobre as exonerações. Ele apenas fez referência à viagem a Belo Horizonte, para ver os efeitos das chuvas dos últimos dias, e disse que outras informações estão em suas “mídias sociais”:

— Estou indo agora para Belo Horizonte, tudo o mais aqui está nas minhas mídias sociais, está ok?.