O Globo, n. 31614, 26/02/2020. Rio, p. 10

Museu Nacional vai restaurar jardim nunca aberto à visitação

Gisele Barros


O trabalho de reconstrução e restauração do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, pode devolver à população um espaço que nunca foi aberto ao público. Na lateral esquerda do palácio — que foi destruído por um incêndio em setembro de 2018 —, está o Jardim das Princesas, uma área onde Isabel e Leopoldina, filhas de Dom Pedro II, passavam o tempo livre. A informação foi antecipada pelo colunista Ancelmo Gois, do GLOBO.

O destaque do local é a ornamentação idealizada pela Família Real, utilizando a técnica do embrechamento, que consiste em incrustar conchas, pedras, fragmentos de louças, entre outros materiais, no cimento fresco. No espaço, há três bancos largos e oito pequenos. Em um deles, há o registro da data de batismo de Isabel. O jardim tem ainda dois chafarizes e muros enfeitados com mosaicos.

Segundo o diretor do Museu Nacional, o paleontólogo Alexander Kellner, a instituição sempre quis restaurar o local e utilizá-lo para atividades culturais, mas o orçamento impedia o trabalho:

— Há relatos de que Albert Einstein teria plantado uma árvore ali quando visitou o museu, em 1925. Queremos resgatar essa história e vamos realizar um trabalho arqueológico e estrutural. A visitação nunca foi possível porque infelizmente o local está muito deteriorado, mas ele é muito especial, tem grande valor histórico e precisa ser cuidado.

Segundo Kellner, a primeira etapa do trabalho deve começar em abril. Serão protegidas todas as áreas do museu que podem ser restauradas, preparando o espaço para a realização de obras estruturais na fachada e no telhado do bloco um. Essa etapa está prevista para começar no segundo semestre deste ano.

O orçamento total do trabalho ainda não está fechado. O diretor explica que a entrega do projeto sofreu um atraso por parte da empresa contratada, mas ele acredita que será possível apresentar em junho, no aniversário da instituição, a maquete com os detalhes das obras.

— A nossa meta é que em 2022, no bicentenário da Independência do Brasil, a gente devolva parte do museu para a sociedade, quem sabe abrindo o Jardim das Princesas para visitação. Seria decepcionante celebrar a data com o local onde tudo começou fechado — concluiu Kellner.