O Globo, n.31.583, 26/01/2020. País. p.13

O condutor do processo de impeachment de Collor

 

Ao receber o pedido de impeachment do então presidente Fernando Collor, Ibsen Pinheiro, presidente da Câmara dos Deputados na ocasião, disse a frase que acabou ficando famosa no mundo da política: — O que o povo quer, esta Casa acaba querendo. Deputado federal por quatro legislaturas, entre 1983 e 2011, Ibsen também integrou a Assembleia Constituinte, que redigiu a Constituição de 1988. Depois do impeachment, Ibsen foi investigado pela CPI dos Anões do Orçamento, que apurava um esquema de manipulação de emendas parlamentares.

Em meio a uma suspeita de movimentações bancárias incompatíveis com o patrimônio, Ibsen teve o mandato cassado, em 1994. Em dezembro de 1999, o Supremo Tribunal Federal (STF) extinguiu o processo, apontando inconsistência das denúncias. Ao longo das décadas de atuação parlamentar, o exdeputado foi autor da proposta para alterar a distribuição dos royalties de petróleo, prejudicando estados produtores, principalmente o Rio. A proposta ficou conhecida como Emenda Ibsen. Aprovada pelo Congresso em 2010, a Emenda Ibsen, elaborada em parceria com os então deputados Marcelo Castro (PMDB-PI) e Humberto Souto (PPS-MG), previa a distribuição igualitária dos royalties do petróleo entre todos os estados e municípios. A lei não chegou a entrar em vigor, porque foi vetada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. À época, Ibsen acabou se tornando alvo de protestos no Rio.

Antes de chegar à Câmara dos Deputados, foi vereador em Porto Alegre e deputado estadual no Rio Grande do Sul.

Ibsen também era jornalista esportivo, advogado e atuou como promotor e procurador da Justiça. Trabalhou na “Rádio Gaúcha” e no jornal “Zero Hora”, durante as décadas de 1960 e 1970. No Rio Grande do Sul, foi ainda vice-presidente do Internacional. Em sua passagem pelo clube de futebol, foi construído o estádio Beira-Rio.

LUTO DE TRÊS DIAS

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), decretou luto oficial de três dias no estado. Em nota publicada em uma rede social, o governador ressaltou a importância do exparlamentar que “deixa grande legado ao Brasil”. Também em uma rede social, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), lamentou a morte e disse que Ibsen presidiu a Casa em um dos momentos mais importantes da democracia brasileira. “Ibsen foi um exemplo para mim, tive a oportunidade de conviver e aprender muito com ele. Perdemos um homem público diferenciado”, escreveu.

O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, lamentou a morte de “um bom amigo” que fez ao longo da vida. “Ibsen, político importante na história do Brasil, de muita coragem pessoal, grande capacidade de compreensão e análise do cenário político brasileiro. Enfrentou muitas dificuldades exatamente por seu brilhantismo”, postou, no Twitter.

O ministro da Cidadania, Osmar Terra, também homenageou o conterrâneo. Disse que o ex-deputado era um dos mais brilhantes políticos brasileiros, “com uma enorme capacidade de formulação e de compreensão da política”.

Ibsen Pinheiro morreu na noite de sexta-feira, aos 84 anos. Gaúcho de São Borja, ele sofreu uma parada cardiorrespiratória enquanto passava por tratamento de saúde no Hospital Dom Vicente Scherer, em Porto Alegre, segundo a assessoria do MDB, partido ao qual era filiado. Ele deixa um filho, o jornalista Márcio Pinheiro.