O Globo, n. 31615, 27/02/2020. País, p. 7

Alcolumbre quer irmão na prefeitura de Macapá

Natália Portinari
Amanda Almeida


Depois da montanha russa que o levou de um amargo terceiro lugar nas eleições para o governo do Amapá em 2018 à improvável presidência do Senado quatro meses depois, Davi Alcolumbre (DEM-AP) quer aproveitar a projeção e o poder do cargo mais importante de sua carreira política para ampliar sua força em seu estado e emplacar como prefeito da capital, Macapá, Josiel Alcolumbre (DEM), seu irmão.

Empresário, Josiel é suplente de Alcolumbre no Senado, detém empresas de mídia no Amapá e se mantinha afastado da política. Desde que o irmão se tornou presidente do Senado, porém, Josiel passou a assumir parte da agenda política dele no estado.

A candidatura à prefeitura de Macapá deve contar com o apoio do grupo ligado ao governador do Amapá, Waldez Góes (PDT). De família tradicional na política do estado, o governador esteve no campo oposto ao de Alcolumbre nas últimas eleições. A recente aproximação é atribuída à força que o senador ganhou ao se eleger para o comando do Congresso.

Alcolumbre tem ajudado Waldez Góes em Brasília, com a liberação de verbas federais e outras demandas nos Três Poderes.

Prefeito dividido

Outro que se tornou mais “dependente” da atuação política do presidente do Senado na capital federal foi o prefeito de Macapá, Clécio Luís, que, por isso, está numa posição incômoda. No seu segundo mandato, Clécio tem sido pressionado a apoiar Josiel. Contudo, seu partido, o Rede, comandado pelo senador Randolfe Rodrigues no estado, já anunciou como pré-candidato à prefeitura de Macapá o advogado Rubem Bermeguy.

A candidatura de Josiel provoca uma ruptura na relação entre Alcolumbre e Randolfe, que contava com o apoio do presidente do Senado a Bermeguy. A aliança seria uma retribuição pelo endosso de Randolfe à candidatura vencedora de Alcolumbre ao Senado, em 2014.

Teste político

O presidente do Senado, no entanto, tem batido o pé pela candidatura do irmão. As eleições municipais vão ser um teste político para ele, que, entre os moradores de Amapá, embora seja o político do estado em cargo de maior poder atualmente, é tido como menos forte que as tradicionais famílias Capiberibe e Góes.

Aliados de Davi Alcolumbre reiteram que, por isso, o momento político dele, à frente do Senado, é o melhor para crescer no seu estado.

— Davi apanha da direita, apanha da esquerda (nacionalmente), mas está bem no Amapá, que é o que importa para ele — afirma o senador licenciado Lucas Barreto (PSDAP), seu aliado.

Lucas Barreto lembra que, em 2019, o estado do Amapá recebeu R$ 134 milhões em verbas federais destinadas por parlamentares, o maior valor desde 2015. Ele atribui o apoio de Clécio a Josiel à liberação dessas verbas — por ora, o prefeito de Macapá não formalizou adesão.

— O Clécio está apoiando o Josiel porque o Davi o ajudou muito — afirma Lucas Barreto.

Na última sexta-feira, o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) protocolou representação pedindo que a corte de contas avalie a liberação de verbas extras autorizadas por Davi Alcolumbre.

No texto, é pontuado o aumento de repasses ao estado do Amapá no último ano. O Ministério Público solicita que o TCU analise “se as verbas extras autorizadas pelo atual presidente do Senado Federal, em especial para a região do estado do Amapá e sua capital Macapá, foram pautadas em estudos e critérios objetivos que justifiquem o destino dos recursos liberados ou se serviram apenas para atender a interesses pessoais em descumprimento ao princípio da motivação, ao princípio da moralidade, e ao princípio da supremacia do interesse público”.

Presidente e ministro

Em janeiro, no recesso legislativo, Alcolumbre passou o mês inaugurando obras no estado, especialmente em Macapá, ao lado do irmão Josiel. Foi acompanhado nas solenidades de autoridades, como Gustavo Canuto, então ministro do Desenvolvimento Regional.

Durante o ano passado, Alcolumbre conseguiu levar outras autoridades ao estado, como o próprio presidente Jair Bolsonaro, que desembarcou em Macapá em 12 de abril, para prestigiar a reinauguração do Aeroporto Internacional de Macapá Alberto Alcolumbre. O nome do terminal é em homenagem a um tio do presidente do Senado. A obra custou ao todo R$ 166 milhões aos cofres públicos e dobrou a capacidade de passageiros, podendo receber até 5,5 milhões por ano.

Além do candidato de Randolfe, Josiel pode enfrentar, entre outros, o exgovernador e ex-senador João Capiberibe (PSB) nas urnas. Assim como Alcolumbre, ele foi derrotado na disputa para o governo do Amapá em 2018.

“Davi apanha da direita, apanha da esquerda (nacionalmente), mas está bem no Amapá, que é o que importa para ele” — Lucas Barreto (PSD-AP), senador licenciado aliado de Alcolumbre, sobre a projeção do presidente do Senado.